sábado, 4 de abril de 2015

O ASSOBIO

Entrou na rua e ouviu um assobio de galanteio arrepiante: fiuuu….fiuuu. Pelo canto do olho procurou identificar o autor do assobio. Não o viu, mas achou estranho o facto.

Fadagosa, assim se chamava a moça, era dotada de uma inteligência viva e de uma bondade natural apreciada por todos os amigos. Em contrapartida, não devia nada à beleza e sabia-o bem.

O assobio repetiu-se bem claro e audível: fiuu…fiuu. De modo inconsciente, o seu andar tornou-se mais feminino . Quem lhe diria minutos antes, que acharia graça  àquela apreciação,  um tanto ou quanto fora de tempo.

Tornou a perscrutar em redor mas, sem sucesso. No dia seguinte, voltou ao local e tornou a ouvir o assobio de galanteio. Parou e olhou, determinada em descobrir quem lhe assobiava assim.

No 2º andar do prédio, mesmo à sua frente, viu um homem enorme, ainda jovem e iria jurar que era ele que assobiava. Esperou um bocado e desfez qualquer dúvida. O jovem tinha atrás de si um papagaio e era ele que produzia os assobios de galanteio.

Especada no meio do passeio, Fadagosa despertou-lhe a atenção. Da varanda, passado um bocado, o jovem chamou-a:

-Fadagosa? És tu Fadagosa? Espera que vou Já ter contigo!

Ela abriu os olhos, descrente no que via. Tinha à sua frente o Simão, a sua paixão de infância, de quem perdera o contacto quando ele emigrara com os seus pais.

Simão levantou a gigante Fadagosa ao colo e beijou-a apaixonadamente. Fadagosa apertou-o tanto, mas tanto, que o teria sufocado se ele não fosse, tal como ela, um gigante.

Subiram  apressados ao 2º andar e amaram-se de tal modo, que o papagaio incorporou na sua fala uma nova frase:

-Meu amor, nunca mais te deixo, nem que o mundo acabe!

E cada vez que o papagaio pronunciava esta frase mágica, Fadagosa beijava-o e ele fechava os olhos e imaginava que estava a ser apaparicado pela bela vizinha do 1º andar.

Jorge C. Chora




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