Entrou na rua e ouviu um assobio de galanteio arrepiante: fiuuu….fiuuu.
Pelo canto do olho procurou identificar o autor do assobio. Não o viu, mas
achou estranho o facto.
Fadagosa, assim se chamava a moça, era dotada de uma
inteligência viva e de uma bondade natural apreciada por todos os amigos. Em
contrapartida, não devia nada à beleza e sabia-o bem.
O assobio repetiu-se bem claro e audível: fiuu…fiuu. De modo
inconsciente, o seu andar tornou-se mais feminino . Quem lhe diria minutos antes,
que acharia graça àquela apreciação, um tanto ou quanto fora de tempo.
Tornou a perscrutar em redor mas, sem sucesso. No dia seguinte,
voltou ao local e tornou a ouvir o assobio de galanteio. Parou e olhou,
determinada em descobrir quem lhe assobiava assim.
No 2º andar do prédio, mesmo à sua frente, viu um homem
enorme, ainda jovem e iria jurar que era ele que assobiava. Esperou um bocado e
desfez qualquer dúvida. O jovem tinha atrás de si um papagaio e era ele que
produzia os assobios de galanteio.
Especada no meio do passeio, Fadagosa despertou-lhe a
atenção. Da varanda, passado um bocado, o jovem chamou-a:
-Fadagosa? És tu Fadagosa? Espera que vou Já ter contigo!
Ela abriu os olhos, descrente no que via. Tinha à sua frente
o Simão, a sua paixão de infância, de quem perdera o contacto quando ele
emigrara com os seus pais.
Simão levantou a gigante Fadagosa ao colo e beijou-a apaixonadamente.
Fadagosa apertou-o tanto, mas tanto, que o teria sufocado se ele não fosse, tal
como ela, um gigante.
Subiram apressados ao
2º andar e amaram-se de tal modo, que o papagaio incorporou na sua fala uma
nova frase:
-Meu amor, nunca mais te deixo, nem que o mundo acabe!
E cada vez que o papagaio pronunciava esta frase mágica,
Fadagosa beijava-o e ele fechava os olhos e imaginava que estava a ser
apaparicado pela bela vizinha do 1º andar.
Jorge C. Chora
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