De dedo em riste e cachucho a brilhar no dedo, entrou na
sapataria e comprou umas botas de couro de cano alto. Logo a seguir, entrou
noutra e pagou um cachecol. Entretanto, ao observar uma série de compradores
transportando pequenos sacos, não se conteve e exclamou:
-Esta gente compra tudo!
Palavras não eram ditas e adquiriu um enorme casaco. Depois
de o mirar e remirar achou que ele ficava bem com uma pulseira que vira no início
da sua incursão aquisitiva. Não ficou a remoer a decisão: trouxe-a.
Enquanto a vendedora a auxiliava a colocar a pulseira,
escandalizou-se com duas ou três pessoas que escolhiam peças da ourivesaria:
-Esta gente compra tudo!
Enquanto caminhava ao longo dos compridos corredores do
centro comercial sentiu fome. Reparou nos restaurantes desertos e resmungou:
-Compram tudo e depois não têm dinheiro para comer!
Ao passar por um pequeno espaço de comida rápida, acercou-se
do balcão e pediu:
-Um cachorro, daqueles da promoção, e um copo de água…
Enquanto comia, congratulava-se por estar a poupar dinheiro
e ser diferente da gentalha que comprava tudo.
-Que gente… compram tudo e nada poupam!
À saída, viu um apito metálico exposto numa montra de
desporto e não resistiu.
-Não podia deixá-lo escapar… - suspirou, encantada, apitando
três vezes, antes de repetir – Esta gente compra tudo!
Jorge C. Chora
Não há maior cego que aquele que não quer ver.........
ResponderEliminarVina Sampedro/João Leitão