Quem entrava na taberna, via duas pernas a mexerem-se, no
buraco que dava para a sobreloja. O dono tinha subido à pequena arrecadação
para ir buscar tabaco.
Sentados nos bancos, os clientes faziam comentários:
-Estás aí há tanto tempo que daqui a um bocado adormeces…
-Nunca mais desces porque estás no céu…
-Tens aí a escada e podes subi-la se quiseres vir…-dizia-lhe
o dono.
-Se tivesse asas subia …- respondia-lhe o velho cliente,
agarrado a um copo de tinto.
Maria, a funcionária, não se conteve:
-Asas no pífaro queria vossemecê…levantava-o até ao céu e ia
ver as cabrinhas. Matava as saudades, não é assim?
O cliente, com tantos mas tantos anos que ninguém corria o
risco de lhe adivinhar a idade, eriçou o farto bigode, e disse:
-Ah! Que bela ideia essa do pífaro ter a ajuda de umas
asinhas…
Maria deixou de o ouvir e arrependeu-se:
- Mas que ideia mais estapafúrdia lhe havia de ter sugerido!
À saída, o velhinho, com um ar sonhador, apoiado no seu
velho cajado, sussurrou ao ouvido de Maria:
-Queres ser as minhas asinhas, querida Maria?
Ela sorriu-lhe e disse-lhe:
-Um dia destes… quem sabe ! - E pensou que o diacho do
velhinho, devia ser a reincarnação do demo.
Jorge C. Chora
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