quinta-feira, 2 de junho de 2016

A MARIA DAS ASINHAS

    
Quem entrava na taberna, via duas pernas a mexerem-se, no buraco que dava para a sobreloja. O dono tinha subido à pequena arrecadação para ir buscar tabaco.

Sentados nos bancos, os clientes faziam comentários:

-Estás aí há tanto tempo que daqui a um bocado adormeces…

-Nunca mais desces porque estás no céu…

-Tens aí a escada e podes subi-la se quiseres vir…-dizia-lhe o dono.

-Se tivesse asas subia …- respondia-lhe o velho cliente, agarrado a um copo de tinto.

Maria, a funcionária, não se conteve:

-Asas no pífaro queria vossemecê…levantava-o até ao céu e ia ver as cabrinhas. Matava as saudades, não é assim?

O cliente, com tantos mas tantos anos que ninguém corria o risco de lhe adivinhar a idade, eriçou o farto bigode, e disse:

-Ah! Que bela ideia essa do pífaro ter a ajuda de umas asinhas…

Maria deixou de o ouvir e arrependeu-se:

- Mas que ideia mais estapafúrdia lhe havia de ter sugerido!

À saída, o velhinho, com um ar sonhador, apoiado no seu velho cajado, sussurrou ao ouvido de Maria:

-Queres ser as minhas asinhas, querida Maria?

Ela sorriu-lhe e disse-lhe:

-Um dia destes… quem sabe ! - E pensou que o diacho do velhinho, devia ser a reincarnação do demo.

Jorge C. Chora



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