quarta-feira, 22 de junho de 2016

O BAMBOLEAR DA URSULINA


Ursulina subia a rua do Carmo a passo lento, lentíssimo, bamboleando as ancas com malícia e saber de experiência feita. Atrás de si, um homem maduro, de olhos postos nas nádegas da caminhante, fingia-se incomodado com a visão paradisíaca, fazendo lembrar Pina Manique, sempre à cata de mulheres licenciosas que não estivessem matriculadas.

Tão embrenhado na sua tarefa se encontrava que não deu conta de que a sua cabeça assumira o balancear da bela Ursulina.

O”Tainha”, assim se chamava o homem, conhecia o marido da senhora. Era dono de barcos de pesca, afamado gabiru das noites de estúrdia lisboeta, amante de mulheres de má fama e gastador inveterado. Fora seu empregado e andara à pesca nos seus barcos. Todos sabiam, através dos seus pescadores, que o patrão possuía um apêndice corporal de alto lá com ele, pois estavam fartos de o ver, a bordo das embarcações, urinar para o Tejo e para o mar. 
“Tainha” seguia agora quase colado a Ursulina e ninguém lhe tirava da cabeça que o seu avantajado marido deveria ser o responsável pela lentidão da sua marcha. Suspirava o pescador pelos tempos da inquisição em que a relação contranatura seria objecto de sevícias e até conseguia ouvir os gritos do empresário.
Prosseguia Ursulina com muita dificuldade a sua ascensão, após uma lauta feijoada, esforçando-se para reter os gases quando, sem conseguir conter-se, explodiu. “Tainha”, quase colado, foi apanhado pela explosão gasosa. Desmaiou e só acordou no hospital, ligado a uma máquina de oxigénio. Ainda hoje não sabe o que lhe aconteceu.

Jorge C. Chora

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