A voz ouvia-se com enormes distorções e, caso a cantora não
fosse conhecida, o recinto ficaria deserto, pela notória falta de qualidade da
actuação. Ela esforçava-se, sem qualquer sucesso, pois o sistema de som, que a
organização disponibilizara, era péssimo ou, na melhor das hipóteses,
completamente inadequado.
A cantora dispunha de alguns trunfos: era relativamente
jovem, simpática e trajava uma minissaia que não escondia umas elegantes,
compridas e belas pernas.
Um vento forte começou a fazer-se sentir. De repente, as
saias da artista levantaram-se por diversas vezes e ela teve de as segurar.
O vento depressa amainou. Como que por artes mágicas, alguns
espectadores chegaram-se para junto do palco e começaram, diria que por mero
instinto, a soprar, levando a que outros fizessem o mesmo.
Éolo não lhes fez a vontade: a saia nunca mais se levantou,
por mais que eles soprassem.
Éolo foi um desmancha prazeres. Um seminarista que se
encontrava na segunda fila e que não acreditava em deuses pagãos, ainda tentou
uma intercessão divina:
-Ó Deus, in adjutórium meum inténde (vinde em meu auxílio) -
mas a sorte também não lhe sorriu.
Jorge C. Chora
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