terça-feira, 16 de agosto de 2016

A NEGA DE ÉOLO

                                                           

A voz ouvia-se com enormes distorções e, caso a cantora não fosse conhecida, o recinto ficaria deserto, pela notória falta de qualidade da actuação. Ela esforçava-se, sem qualquer sucesso, pois o sistema de som, que a organização disponibilizara, era péssimo ou, na melhor das hipóteses, completamente inadequado.

A cantora dispunha de alguns trunfos: era relativamente jovem, simpática e trajava uma minissaia que não escondia umas elegantes, compridas e belas pernas.

Um vento forte começou a fazer-se sentir. De repente, as saias da artista levantaram-se por diversas vezes e ela teve de as segurar.

O vento depressa amainou. Como que por artes mágicas, alguns espectadores chegaram-se para junto do palco e começaram, diria que por mero instinto, a soprar, levando a que outros fizessem o mesmo.

Éolo não lhes fez a vontade: a saia nunca mais se levantou, por mais que eles soprassem.

Éolo foi um desmancha prazeres. Um seminarista que se encontrava na segunda fila e que não acreditava em deuses pagãos, ainda tentou uma intercessão divina:

-Ó Deus, in adjutórium meum inténde (vinde em meu auxílio) - mas a sorte também não lhe sorriu.


Jorge C. Chora

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