Ia amiúde ao Sobreiro e sempre que me apetecia pão com
chouriço, dava um pulo à aldeia do José Franco.
Conversava diversas vezes com o ceramista, que se encontrava
quase sempre a trabalhar, instalado na sua pequena oficina, logo à entrada do
edifício, onde ainda hoje se vendem os artigos de cerâmica.
Numa dessas ocasiões, ao ver o artista a criar, verifiquei
que a figura em barro que moldava, tal como as outras que produzia, não só se
encontravam descalças como apresentavam também um pormenor interessante: tinham
o dedo grande do pé esquerdo levantado.
José Franco sorriu e disse-me que os homens do povo andavam
a maioria das vezes descalços e que, quando estavam na taberna e bebiam um copo
de vinho, mostravam inconscientemente a sua satisfação, levantando o grande
dedo do pé.
Noutra ocasião, acompanhado pela minha mulher, comprámos um
postal onde estava representado o artista com uma das suas obras. Pedimos-lhe
que o rubricasse e ele não se fez rogado: pediu que o segurássemos e, com o
polegar sujo do barro, imprimiu a sua impressão digital.
“Estou a utilizar o meu instrumento de trabalho”, referiu
com a maior simplicidade, convidando-nos a beber a tradicional canequinha de
vinho na sala seguinte, caso nos apetecesse.
Jorge C. Chora
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