quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

ORFÃOS OUTRA VEZ


A minha avó foi
ao mercado e ainda
não voltou.
Há três dias que eu e
a minha irmã esperamos
pelas batatas que foi buscar. 
Tenho medo,
mais pela minha irmã
do que por mim,
que já tenho quatro
anos e ela só tem um.
Ela ainda não voltou,
sei que regressará,
pois desde que
levaram os pais para o céu,
que a avó nos abriga das bombas,
e consegue comida para
nos dar.
Ouço tiros e vejo uma sombra
à entrada do abrigo onde estamos.
O meu coração bate depressa,
só pode ser a minha avó.
É de facto ela, estendida no chão,
 ensanguentada,
que estica o braço e tem
na mão um tomate semi-podre
e diz:
-Desculpem meus filhos, foi
a única coisa que consegui…


Jorge C. Chora

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