A ordem foi seca e peremptória:
-Vão puxar o lustro às maçãs.
E os dois jovens dirigiram-se à cesta, onde elas estavam e
iniciaram o cumprimento escrupuloso da instrução recebida.
De pouco ou nada valia dizerem que elas já brilhavam, que já
tinham executado a mesma tarefa no dia anterior. Limparam as mais brilhantes
pois sabiam que o patrão daí a minutos surgiria para a costumeira fiscalização.
Mal tinham acabado de pensar nisso quando o proprietário os interrogou:
-A tarefa está pronta?
-Quase! Já encerámos estas doze- e apontavam para as mais
lustrosas.
-Muito bem…continuem… -
e dirigia-se para o seu cadeirão colocado no fim da loja, donde vigiava
a totalidade do espaço.
No dia seguinte, logo de manhã, o cesto das maçãs lustrosas
era ladeado por dois cabazes de maçãs normais, a metade do preço em relação às que
brilhavam .
-Tanto trabalho para ninguém as comprar! -resmungaram os
jovens.
E o patrão respondeu, sonolento e de olhos semicerrados:
-Parecendo que não, cumprem várias funções da maior
importância. A primeira a de atrair a atenção de quem passa; a segunda é a de
realçar o baixo preço das que estão ao lado; a terceira, é que não há quem
passe sem as apalpar, o que não lhes dá saúde mas dá prazer aos que lhes mexem,
o que explica porque ninguém as compra.
- Quem sabe, sabe! -exclamam os jovens, puxando
vigorosamente o lustro às maçãs que rodopiam nas suas mãos.
Jorge C. Chora
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