domingo, 2 de abril de 2017

PUXAR O LUSTRO ÀS MAÇÃS



A ordem foi seca e peremptória:

-Vão puxar o lustro às maçãs.

E os dois jovens dirigiram-se à cesta, onde elas estavam e iniciaram o cumprimento escrupuloso da instrução recebida.

De pouco ou nada valia dizerem que elas já brilhavam, que já tinham executado a mesma tarefa no dia anterior. Limparam as mais brilhantes pois sabiam que o patrão daí a minutos surgiria para a costumeira fiscalização. Mal tinham acabado de pensar nisso quando o proprietário os interrogou:

-A tarefa está pronta?

-Quase! Já encerámos estas doze- e apontavam para as mais lustrosas.

-Muito bem…continuem… -  e dirigia-se para o seu cadeirão colocado no fim da loja, donde vigiava a totalidade do espaço.

No dia seguinte, logo de manhã, o cesto das maçãs lustrosas era ladeado por dois cabazes de maçãs normais, a metade do preço em relação às que brilhavam .

-Tanto trabalho para ninguém as comprar! -resmungaram os jovens.

E o patrão respondeu, sonolento e de olhos semicerrados:

-Parecendo que não, cumprem várias funções da maior importância. A primeira a de atrair a atenção de quem passa; a segunda é a de realçar o baixo preço das que estão ao lado; a terceira, é que não há quem passe sem as apalpar, o que não lhes dá saúde mas dá prazer aos que lhes mexem, o que explica porque ninguém as compra.

- Quem sabe, sabe! -exclamam os jovens, puxando vigorosamente o lustro às maçãs que rodopiam nas suas mãos.


Jorge C. Chora

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