terça-feira, 4 de abril de 2017

O INESQUECÍVEL BOOGIE


Este fim-de-semana, quando visitava a feira de Belém, ouvi um casal de certa idade a chamar o seu cão:

-Anda cá Boogie … vem cá Boogie

O nome trouxe-me recordações de há muitas décadas. Elas não se prendiam com o reino canino mas com alguém que conheci, cuja alcunha era exactamente essa: Boogie.

O Boogie era um homem de estatura meã, dotado de uma grande barriga, parecendo dançar com ela. Fazia-se anunciar antecipadamente pela sua proeminente barriga, sobre a qual cruzava os braços, entrelaçava as mãos e fazia circular os dedos polegares como se manuseasse um rosário de contas imaginário entre eles...

Boogie, pelas nossas contas, era mais velho do que Matusalém. Diziam e ele alimentava a lenda, de ter vivido, não me recordo bem se por esta ordem, trinta anos em França, vinte na China e quarenta na Conchichina, fora os que não contara no Brasil, em Portugal e o ror de anos que vivia no ultramar: tudo somado podia ter sido pai do próprio e vetusto Matusalém.

Boogie era também um verdadeiro criador de montes, montanhas, colinas e cordilheiras no cocuruto da gaiatada: ofertava caroladas de modo democrático, à direita, à esquerda e ao centro.

Era também um verdadeiro apreciador dos lóbulos das orelhas que puxava e torcia a seu bel-prazer, como castigo, acompanhado em geral pela expressão:

-Ena rapazola! – e esfregava o dedo indicador no polegar, de modo enojado, queixando-se de que escorriam gordura  -Tens de lavar as orelhas…Esquecendo, de propósito, a temperatura elevadíssima, típica de um clima tropical quente e húmido. Os “rapazolas” até se esqueciam da dor, com os ditos do Boogie. Só por mera acaso não levei carolos ou puxões de orelhas.

O Boogie era assim e acredito que haja quem dele tenha saudades, pois o tempo pode levar ao esquecimento ou tornar simpático e cómico personagem daquele calibre. Outros tempos. Livra!



Jorge C. Chora

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