A senhora da cabeleira
amarela, tem 93 anos e fuma, à janela, três maços por dia. Perdida e achada é à
janela que ela está. Cumprimenta e fala com muita gente enquanto fuma.
O fumo sobe e assenhoreia-se-lhe do cabelo que, ao longo dos
anos e envolto em fumaça, se tornou amarelo.
Uma filha, com paciência de santa, ainda não desistiu de a aconselhar
a deixar o tabaco e a outra, rendeu-se à evidência e traz-lhe os cigarros.
Enquanto a divergência perdura, a senhora aproveita a brecha e fuma, uns a
seguir aos outros. Vai poupando em perfumes, impregnada de cheiro a fumo e também
na coloração do cabelo, que se tornou amarelo desde que os vizinhos se recordam
da Dona fumar à janela e dos mais novos julgarem que ela já nasceu debruçada naquele
peitoril.
Pode haver quem passe por ela e lhe possa sugerir que aquilo
lhe faz mal à saúde? Talvez e a resposta, se não é dada é pensada e devolvida:
-Peça a Deus que lhe dê a idade e a saúde que eu tenho.
-Mas se não fumasse, vivia mais tempo e com mais saúde…
-podiam dizer-lhe.
-Acha que sim … - responderia de forma sarcástica.
Antecipando o conselho, ninguém lhe pergunta nada, antes que
a senhora da cabeleira amarela, as convença a seguir a sua receita de
longevidade.
Jorge C. Chora
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