sexta-feira, 20 de julho de 2018

A MULHER QUE REBUSNAVA


                                               
 Rebusnava e banhava de perdigotos os comensais: ora era o calor, ora era o aperto ou ainda a qualidade dos que tinham a infelicidade de a suportar. Queixava-se de tudo.

Produzia esgares à mesma velocidade com que estalava a língua e “tocava a burros”. De início, os que a rodeavam, fingiram não perceber, não ouvir e nada diziam.
Com a continuação do estranho concerto, o senhor que a acompanhava, o irmão, aconselhou-a:

-Se já almoçaste, aproveita e vai cumprimentar a família real…

-E onde é que ela está?

-Na tua barriguinha, querida mana… e não lambuzes a mão à princesa que é de mau tom.

Levantou-se, fez algo que ainda hoje se está para se saber se era uma vénia ou um trejeito e recuou até à mesa seguinte, onde quase derrubou a terrina da sopa.

-Oh! obstáculos no meio do salão….

E a criadagem da taberna apressara-se a trazer uma esfregona e um balde para que ela minimizasse os danos que eventualmente provocara.

Perdeu a oportunidade de cumprimentar a família real que saiu sem dar por ela, mas não se deu por achada: no dia seguinte, à mesma hora, entrou na refrega para apanhar um lugar nas longas mesas da tasca, onde a refeição completa era a seis euros.

Jorge C. Chora
   20/12/18



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