Produzia esgares à mesma velocidade com que estalava a
língua e “tocava a burros”. De início, os que a rodeavam, fingiram não perceber,
não ouvir e nada diziam.
Com a continuação do estranho concerto, o senhor que a
acompanhava, o irmão, aconselhou-a:
-Se já almoçaste, aproveita e vai cumprimentar a
família real…
-E onde é que ela está?
-Na tua barriguinha, querida mana… e não lambuzes a
mão à princesa que é de mau tom.
Levantou-se, fez algo que ainda hoje se está para se
saber se era uma vénia ou um trejeito e recuou até à mesa seguinte, onde quase
derrubou a terrina da sopa.
-Oh! obstáculos no meio do salão….
E a criadagem da taberna apressara-se a trazer uma
esfregona e um balde para que ela minimizasse os danos que eventualmente provocara.
Perdeu a oportunidade de cumprimentar a família real
que saiu sem dar por ela, mas não se deu por achada: no dia seguinte, à mesma
hora, entrou na refrega para apanhar um lugar nas longas mesas da tasca, onde a
refeição completa era a seis euros.
Jorge C. Chora
20/12/18
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