quinta-feira, 28 de março de 2019

A ÁRVORE DOS SORRISOS



 Abriram os olhos de espanto ao ouvirem um vendedor ambulante de tapetes, falar numa árvore dos sorrisos. O homem estava sentado à mesa de um café, soprava e depois bebia um chá fumegante. Conversava com alguém que examinava a sua mercadoria.

-Pois é…o preço está tão baixo …não consigo baixá-lo mais…- defendia-se o vendedor.
-Se fossem mais em conta levava dois, em vez de um… -respondia o comprador.
E o vendedor levantou as suas enormes pestanas, sorriu e disse:

-Se baixasse o preço, mais valia ter ficado na minha linda terra, rodeado de árvores do sorriso…

E mais não conseguiram ouvir porque os pais tiveram de se ir embora e os levaram.
Bernardo e Helena, sempre que tinham oportunidade, perguntavam às pessoas crescidas se conheciam a árvore dos sorrisos.
As respostas eram mais ou menos as mesmas:

-Árvore dos sorrisos? Nunca ouvi falar… mas até dava jeito se existisse uma, ou mesmo algumas…
Com o tempo, Bernardo e Helena acabaram por deixar de perguntar fosse a quem fosse por aquela árvore, tantos tinham sido os sorrisos zombeteiros dos seus interlocutores.

Nunca mais falaram de semelhante fenómeno e fingiram calar, bem fundo, a sua curiosidade.
Um dia os seus pais levaram-nos a um país onde ainda não tinham ido.

Num passeio que fizeram a uma zona meia desértica e quente, ao olharem para uma árvore de troncos retorcidos e espinhosos, não contiveram um sorriso de espanto: em todos os troncos havia cabras empoleiradas. Entreolharam-se e respiraram fundo: tinham finalmente encontrado a árvore dos sorrisos. Ela existia mesmo.

Durante muito tempo, Bernardo e Helena viram as cabras deliciarem-se com os frutos de argão, pois assim se chamavam, de acordo com a informação dada pelos marroquinos presentes.
Bernardo e Helena suspiraram de alívio: não fora em vão, que tinham mantido a sua curiosidade sempre presente ao longo dos anos.

E o leitor(a) sabe quão importante é o argão para a economia marroquina e norte africana, para além de despertar sorrisos, devido às cabras trepadoras empoleiradas nas árvores?

Jorge C. Chora
28/3/19

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