No meio da barulheira infernal, do barulho dos automóveis,
das nuvens de fumo a empestarem o ambiente, do toque dos telefones, dos
anúncios e chamadas pelos altifalantes, conseguiu perceber que o chamavam à
direcção. Confirmou com os colegas que assim era.
No seu regresso, os funcionários,
em pulgas para saberem o motivo, questionaram-no:
-Então?
Não os fez esperar e satisfez-lhes a curiosidade:
-Querem que nós fiquemos com um telemóvel de serviço, fora
das horas de trabalho, incluindo feriados e aos fins de semana…
-Disseste-lhes que não! – exclamaram irritados.
-Claro! Nem outra resposta podia ter dado! Nem deviam ter
feito semelhante proposta, muito menos apresentarem-na como um facto consumado.
-Boa! -concordaram os visados.
Dois dias após a conversa, foi de novo chamado à direcção, onde
lhe comunicaram que não tinha perfil de chefe e o seu lugar seria ocupado por
outra pessoa. Esse outro, era um dos que aplaudira a sua tomada de posição.
O novo chefe, regressado do gabinete do director, apressou-se
a reunir com o seu antigo chefe e os restantes colegas e informou-os:
-A partir de amanhã, segundo a escala que vou elaborar, cada
um de vós levará para casa o telemóvel de serviço, durante uma semana, finda a
qual o passará ao colega designado.
O antigo chefe sorriu e disse:
-Cedo-te a minha vez. Vais ter a honra de ficar com essa
benesse duas semanas seguidas: Na minha e na tua.
E assim foi. O chefe com perfil passou a fazer o frete duas
vezes seguidas e o antigo reformou-se pouco depois.
-Adeus a todos. Tchau. Passem bem.
Hoje em dia, segundo consta, a grande maioria dos chefes têm
perfil. A era dos grandes chefes sem perfil, passou à história.
Jorge C. Chora
20/1/20
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