Viajou da vila para a cidade, numa folha de almeirão. Recusou ir para o lixo, assomou ao bordo do caixote, a mostrar as suas antenas. Era um caracol a que chamámos Maria João, pois sendo hermafrodita, metade era Maria e a outra metade era João.
Na nossa caminhada diária, resolveu a minha mulher, libertá-lo
no parque Aventura. Transportou a Maria João, embrulhada numa das folhas de
almeirão. Escolheu um local fresco e escondido, numa rocha rodeada de vegetação.
Depositou a minha mulher, também chamada Maria, com todo o cuidado, a outra
Maria, assegurando-se de que ao pé nada havia que fizesse perigar a vida da sua
Maria João.
Cumprido o ritual da libertação, continuámos o passeio
higiénico. Encontrámos o Pantufa, o cão trepador, na sua correria, monte acima,
monte abaixo, segurando nos queixais a pedra que tinha ido buscar à ribeira,
para a deixar rolar do cimo do monte. À sua espera, estava um seu companheiro, outro
cão, chamado Jonas, com uma bola, em vez de uma pedra na boca.
Hoje nem sequer vimos alguém a exercitar-se.
Jorge C. Chora
19/03/2021
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