Para
santinho nem a aureola lhe faltava: a queda precoce de cabelo fazia-o
assemelhar-se ao Stº. António. Quanto ao comportamento, era considerado
exemplar quer no bairro quer na escola.
Ao acordar
naquela manhã, ninguém diria tratar-se da mesma pessoa. Deu-lhe a louca, como
diria a sua amiga Olga. Pura e simplesmente decidiu faltar às aulas, mas não
podia permanecer em casa.
Vestiu-se,
agarrou na pasta com os livros e foi apanhar o autocarro. A viagem ainda durava
cerca de 30 minutos pois vivia numa localidade ainda distante da escola.
Cirandou
pela cidade, ocupou o tempo a ver lojas e no café. Na hora de regressar,
encaminhou-se para a paragem. Mal lá chegou viu um carro parar mesmo à sua
frente.
- Anda …
dou-te boleia. Hoje tenho de ir para o sítio onde moras…
João sentiu-se
gelar. À sua frente tinha o professor a quem faltara às aulas.
- Vamos
embora, não tenho o dia todo…
Ainda pensou
dar uma desculpa e não aceitar a boleia. Desistiu da ideia. Tinha de saber o
que ele diria aos seus pais. Eles até eram conhecidos…
Durante a
viagem João observou de modo atento o professor. O que estaria ele a pensar?
Aquele franzir da testa significaria o quê? Porque não lhe daria ele o
raspanete que ele merecia?
A viagem foi
um tormento. João já estava por tudo. Se o professor não dissesse aos pais nada,
ele próprio confessaria a sua falta. Elaborou mentalmente o discurso de
desculpas e a promessa de não voltar a cometer a falta.
Chegados ao
destino, João ensaiou as suas desculpas:
- Sr.
Professor peço-lhe desculpas…
- Desculpas,
peço-te eu por não ter tido tempo de vos avisar que tinha de faltar…
João já não
ouviu nem quis ouvir o resto.
- As suas
melhoras…
E o
professor ainda tentou dizer-lhe que não estava doente …
Jorge C.
Chora
28/10/2021
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