O seu perfume acabara há duas semanas. O António, todos os dias, à mesma hora, ia buscá-lo à prateleira, desenroscava a tampa e borrifava-o na sua direção. Nenhuma gota de lá saia porque simplesmente, continuava vazio.
A sua mulher,
ao fim da segunda semana, farta de o ver repetir este gesto sem qualquer
sentido, um tanto agastada, interpelou-o:
-O que se
passa contigo? Não vês que já não tens perfume há semanas?
- Eu sei
disso!
-Então se
sabes porque repetes o gesto como se fosses um maluquinho?
-Para não
perder o hábito de me perfumar todas as manhãs…
-Então
porque não compras outro frasco?
-Olha
…tenho-me esquecido… e por isso, antes que perca o hábito, continuo a”
perfumar-me” todas as manhãs!
Era mesmo assim o seu marido. Decidiu não
intervir até que ele se lembrasse de o comprar.
Ao fim de
dez dias, não conseguiu aguentar-se, comprou o perfume ao marido e colocou-o na
prateleira.
No dia
seguinte espreitou o cônjuge. Ele pegou no frasco de perfume cheio, mirou-o,
remirou-o em voz alta, questionou-se:
- Não me
lembro de o ter comprado! Deve ser do meu filho…
E colocou de
novo o perfume onde estava, foi buscar o frasco vazio e “perfumou-se” para não
perder o hábito.
Jorge C.
Chora
24/10/2021
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