domingo, 24 de outubro de 2021

UMA QUESTÃO DE HÁBITO

O seu perfume acabara há duas semanas. O António, todos os dias, à mesma hora, ia buscá-lo à prateleira, desenroscava a tampa e borrifava-o na sua direção. Nenhuma gota de lá saia porque simplesmente, continuava vazio.

A sua mulher, ao fim da segunda semana, farta de o ver repetir este gesto sem qualquer sentido, um tanto agastada, interpelou-o:

-O que se passa contigo? Não vês que já não tens perfume há semanas?

- Eu sei disso!

-Então se sabes porque repetes o gesto como se fosses um maluquinho?

-Para não perder o hábito de me perfumar todas as manhãs…

-Então porque não compras outro frasco?

-Olha …tenho-me esquecido… e por isso, antes que perca o hábito, continuo a” perfumar-me” todas as manhãs!

 Era mesmo assim o seu marido. Decidiu não intervir até que ele se lembrasse de o comprar.

Ao fim de dez dias, não conseguiu aguentar-se, comprou o perfume ao marido e colocou-o na prateleira.

No dia seguinte espreitou o cônjuge. Ele pegou no frasco de perfume cheio, mirou-o, remirou-o em voz alta, questionou-se:

- Não me lembro de o ter comprado! Deve ser do meu filho…

E colocou de novo o perfume onde estava, foi buscar o frasco vazio e “perfumou-se” para não perder o hábito.

 

Jorge C. Chora

24/10/2021

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