terça-feira, 3 de maio de 2022

A ESTRELA


Todos a conheciam. Era presença assídua das melhores festas e uma das mais simpáticas e despretensiosa mulheres da alta roda.

Chamavam-na de Estrela, embora em rigor, ninguém soubesse de facto o que fazia e se esse era o seu nome verdadeiro. Pelo porte descontraído e pela facilidade com que falava achavam-na uma artista, uma declamadora, uma poetisa, quiçá, uma pintora que usava um pseudónimo. Como só era vista ao cair da noite, alguém, não se sabia quem, chamou-a de Estrela, e Estrela ficou.

Não constava que possuísse fortuna, embora vivesse de um modo desafogado e tivesse um leque enorme de amizades importantes. Herdara meia dúzia de apartamentos e era com as rendas que conseguia manter-se, com muita ginástica e maior pose.

 Albano, naquela noite, não tirava os olhos de Estrela. Já a vira noutras ocasiões, mas nunca se proporcionara uma oportunidade de se aproximar, pois, estava sempre rodeada de pessoas por quem ele não nutria particular simpatia. Em abono da verdade, a antipatia era recíproca. A todos recusara empréstimos, por parte do banco de que era um dos mais altos dirigentes.

Decidiu que desse dia não passava. Estrela notou-lhe o interesse. Afastou-se do grupo onde estava e foi buscar uma bebida. Passou-lhe mesmo em frente. Albano sorriu-lhe abertamente e dirigiu-lhe a palavra:

-Tenho-a visto por diversas vezes nos sítios onde vamos, mas nunca tive a oportunidade de nos apresentarmos…

-É verdade o que diz… nunca se proporcionou, mas vamos já resolver o assunto… -e estendeu-lhe a mão- que ele levou aos lábios e em vez de fazer menção de a beijar, beijou-a mesmo.

-Adoro o seu perfume…condiz consigo, é misterioso…

Estrela sorriu, tinha-o onde queria: a seus pés. Aproximou o pescoço dizendo-lhe:

-Também adoro este perfume. Aqui ainda se sente melhor. Aproximou ligeiramente o pescoço do nariz de Albano, enlaçando-o pela cintura, enquanto o conduzia para um recanto, perto das bebidas, mas oculto da sala onde estavam os convivas.

Albano sentiu a cabeça puxada suavemente para os seios de Estrela que lhe confidenciou ao ouvido:

-Um pouco mais abaixo o aroma é mais intenso- e baixava-lhe a cabeça, primeiro até ao umbigo e depois, baixando ligeiramente as calças de seda, fê-lo sentir a humidade que já a tomava.

Albano tremia de excitação. Estrela passou-lhe, de modo delicado, a mão sobre o alto bem visível que se formara nas suas calças, enquanto lhe dizia:

-São horas de me retirar, não tenho carro. Espatifei o meu e agora não tenho transporte…

-Levo-a a casa- ofereceu-se Albano.

-Agradeço, mas assim todos ficam a saber o que vamos fazer…

-Diga-me a sua morada e amanhã terá um carro à sua porta.

Como quem não quer a coisa, disse-lhe ao ouvido a morada, enquanto lhe ia colocando a língua no pavilhão auricular.

No dia seguinte, tinha à sua porta, um jaguar preto com uma motorista.

- Minha senhora, uma oferta da parte da parte do senhor doutor Albano.

Não precisa de se preocupar com o meu ordenado que o senhor doutor é que me paga.

Estrela olhou a motorista com atenção.

-Leontina?

-Sim, minha senhora.

- Sou eu!

-Caíram nos braços uma da outra. Tinham sido colegas e namoradas.

- Continuas a não usar roupa íntima Estela? -perguntou Filipa.

- Chama-me Estrela, que é como todo o mundo me conhece! E levantou a saia que trazia e mostrou nada vestir. Estrearam o banco traseiro da viatura, recuperando os anos perdidos.

O mundo estava com elas. O doutor era recebido aos fins de semana e os restantes dias, pertenciam a Leontina.

Agora todo o mundo sabia que Estrela era a digníssima mais-que-tudo, do Senhor Albano, o poderoso e riquíssimo dirigente bancário.

Quanto a Leontina, Albano pagava-lhe um excelente bónus extra, para manter a sua Estrela sempre no sétimo céu e sem tempo para ter outros cavalheiros a não se ele próprio.

 

  Jorge C. Chora

   3/05/2022

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