domingo, 26 de março de 2023

IR PARA O PINTASSILGO


António Carrocho, alentejano morador na Brandoa, enquanto petiscava apressadamente, num café da Mina, contou-me que quando alguém lá para as bandas de S. Domingos, Alentejo, não se encontrava de boa saúde,  era costume dizer-se: não tarda vai para o pintassilgo.

O pintassilgo é como é designado o cemitério local, porque parece que o primeiro a ser lá enterrado foi um pintassilgo, não me tendo explicado, por falta de tempo, se era um pássaro ou alguém com esse nome, que fora lá primeiramente sepultado. Acredito que foi um pássaro, tão poética foi a designação dada à última morada.

Nem todos naquele local são ou eram sepultados no pintassilgo. Os ingleses que eram donos ou que lá trabalhavam nas minas, tinham o privilégio de não ir lá parar: iam para o cemitério próprio dos ingleses onde a terra nem sequer era portuguesa.

Escavaram a terra, e encheram-no de terra mandada vir terra de Inglaterra. Era nesse local que sepultavam os ingleses que por ali faleciam.

Era um privilégio e uma espécie de consolo, ser enterrado em solo da mãe pátria. Não sei se por lá deram sepultura, por exemplo. aos escoceses ou a outro tipo de nascidos na Grã-Bretanha, pois será, em vez de um consolo, uma punição ad eterno, ter em cima, o peso de uma terra inglesa, mesmo depois de morto, em vez da do reino onde pertenciam!

O certo é que eles não se queixam.

Jorge C. Chora

26/3/23

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