quinta-feira, 29 de junho de 2023

O CHEFÃO

 

  O CHEFÃO

O chefão arengava há mais de duas horas, em pleno verão, num recinto ao ar livre.

Ao sol, os funcionários tinham deixado há muito de escutar fosse o que fosse. Pensavam em resistir e rezavam para que o orador, a discursar sem papel, acabasse com aquele insuportável tormento.

Inesperadamente o tempo mudou. Começou a chover, embora de modo ligeiro, mas o chefão continuou, impávido a massacrá-los.

Meu Deus, quando é que isto acaba, pensaram, derreados de todo, os ouvintes.

De súbito ouviu-se um grasnar e uma enorme gaivota a pairar sobre a cabeça do chatarrão.

Um silêncio sepulcral tomou conta da assembleia. A esperança em que aquilo terminasse de vez instalou um sopro de esperança.

E no meio do silêncio começou a escutar-se um murmúrio: Ave Maria…

Mal a oração terminou, a gaivota despejou os intestinos mesmo na cabeça do chefão.

Este não se desmanchou:

- Peço desculpa da interrupção. Vou só lavar-me e já volto.

Quando voltou, nem vivalma lá restava e até os passarinhos tinham abandonado o local.

Jorge C. Chora

29/6/2023

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