A FADISTA
A minutos de
entrar para cantar, Elsa, sem notar, rompeu as suas meias de seda pura bordada.
Conteve as
lágrimas, há meses que não atuava e claro está, não recebia.
Tinha sido o
namorado que as ofertara, antes de ter fugido com outra.
Agora,
ficara sem nada, nem meias nem namorado.
Encheu-se de
coragem e foi cantar. O que vale é que estava depilada,
mas a sua
brancura imaculada, não se coadunava com o xaile e roupa clara.
Na primeira
mesa sentava-se um homem grande, de bigode farfalhudo,
e ar de
poucos amigos. À medida que cantava, o rosto do homem iluminava-se e via-se à
légua que de tudo gostava: da cantora e do que ela cantava.
Elsa reparou
no gigante e achou-o invulgar e simpático.
Quando
acabou a atuação, ele convidou-a a vir para a sua mesa, beijou-lhe a mão e como
havia um mar de gente, entre eles e a mesa, levou-a ao colo como se fosse uma
pena e disse-lhe:
-De ao pé de
mim já não sai.
Elsa
achou-lhe graça e não é que nunca mais saiu!
Todas as
noites que quis, cantou. O grandalhão era sócio da casa de fados
e antes de
cada atuação, com a condição de nunca mais usar meias de seda bordada, beijava
as alvas pernas e os pés à mulher que amava e com quem casara.
Jorge C.
Chora
5/7/2023
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