No café que
Paulo frequentava, reparou em quatro senhoras que conversavam utilizando a linguagem
gestual. Três delas despediram-se e a que permaneceu na mesa chamou o empregado
com um sinal.
Ela pediu ao
empregado, por gestos, um papel para anotar o pedido onde registou o que queria
comer e beber.
Paulo sabia
que o empregado era estrangeiro e novo na casa e que conhecia poucas palavras,
oralmente, mas ainda não dominava a escrita.
Aproximou-se
da senhora e em linguagem gestual perguntou-lhe o que queria.
Ela
disse-lhe e informou-o ao mesmo tempo de que ouvia bem, mas era muda. Paulo
encomendou oralmente o pedido feito.
A jovem
senhora, simpatizou com o Paulo e convidou-o a sentar-se.
Curiosa,
quis saber como ele dominava tão bem a linguagem gestual se não era mudo, tendo-lhe
perguntado de seguida se era professor desta técnica.
Paulo
explicou-lhe, oralmente, que tinha uma filha que era muda e tinha-a acompanhado nas aulas que ela
tivera. Informou-a também que ensinara a sua mulher, pois ela não tinha tido
horário compatível para assistir, garantindo assim a comunicação da filha com
ambos os pais.
- A sua
mulher também domina a linguagem… e não terminou a frase.
Viu o rosto
de Paulo entristecer-se de repente. Terminou os gestos e pediu desculpa, por
ter entrado numa esfera tão íntima.
Recuperado,
Paulo disse-lhe que nada tinha a desculpar e informou-a de que ela morrera
esmagada por uma máquina da construção, quando fiscalizava uma obra. Ela era
engenheira e tinha-o ido substituir, porque a hora coincidia com as aulas da
filha. Chamava-se Helena e a filha Isabel.
Ela esboçou
um sorriso, com receio de o magoar e contou-lhe que se chamava Helena e a sua
mãe Isabel e, por acaso, muda como ela.
Paulo sorriu
e num impulso pegou-lhe na mão e beijou-a.
Isabel,
passada a surpresa, afagou-lhe a cabeça, agradecendo o gesto de amizade e
respeito espontâneo.
Viram-se
mais duas ou três vezes no café e conversaram animadamente, despedindo-se com
dois beijos na face.
Um mês
depois, Paulo foi assistir a um concerto de piano e qual não foi o seu espanto
ao verificar que era Helena, a pianista.
Adorou o
espetáculo. No fim, Helena agradeceu em linguagem gestual os aplausos e a
presença de todos, aproveitando para anunciar para daí a quinze dias, outro
concerto com o mesmo fim deste: angariar verbas para a Associação dos Mudos.
Esperou a
oportunidade para ir ter com Helena e quando ela já se encontrava só, para a
felicitar pessoalmente e para lhe pedir autorização para lhe beijar as
prodigiosas mãos capazes de tal magia.
Helena
sorriu e um pouco acanhada perguntou-lhe se o podia beijar.
Aflito,
Paulo receou que ela se sentisse obrigada a agradecer-lhe os elogios bem
merecidos que lhe dera.
Helena
percebeu a hesitação. Puxou-o para si, escondendo-se por trás dos reposteiros
do palco e beijou-o de forma pouco hábil, colocando-lhe simultaneamente a mão
no interior das calças, dizendo-lhe com uma voz trémula de desejo:
-Quero-te.
Paulo
levantou-lhe suavemente a blusa, beijou-lhe o umbigo,
levantou-a
ao colo dizendo-lhe:
- Também te
quero!
Nesse mesmo
dia passaram a viver juntos, oferecendo-lhe Helena a sua pureza e o seu amor,
colhendo de Paulo a sua doçura e a sua entrega total.
Um ano
depois nasceu a primeira das quatro meninas e qual delas a mais tagarela.
Jorge C.
Chora
1/6/2024