sábado, 1 de junho de 2024

A PIANISTA E O ENGENHEIRO

 

No café que Paulo frequentava, reparou em quatro senhoras que conversavam utilizando a linguagem gestual. Três delas despediram-se e a que permaneceu na mesa chamou o empregado com um sinal.

Ela pediu ao empregado, por gestos, um papel para anotar o pedido onde registou o que queria comer e beber.

Paulo sabia que o empregado era estrangeiro e novo na casa e que conhecia poucas palavras, oralmente, mas ainda não dominava a escrita.

Aproximou-se da senhora e em linguagem gestual perguntou-lhe o que queria.

Ela disse-lhe e informou-o ao mesmo tempo de que ouvia bem, mas era muda. Paulo encomendou oralmente o pedido feito.

A jovem senhora, simpatizou com o Paulo e convidou-o a sentar-se.

Curiosa, quis saber como ele dominava tão bem a linguagem gestual se não era mudo, tendo-lhe perguntado de seguida se era professor desta técnica.

Paulo explicou-lhe, oralmente, que tinha uma filha que era muda   e tinha-a acompanhado nas aulas que ela tivera. Informou-a também que ensinara a sua mulher, pois ela não tinha tido horário compatível para assistir, garantindo assim a comunicação da filha com ambos os pais.

- A sua mulher também domina a linguagem… e não terminou a frase.

Viu o rosto de Paulo entristecer-se de repente. Terminou os gestos e pediu desculpa, por ter entrado numa esfera tão íntima.

Recuperado, Paulo disse-lhe que nada tinha a desculpar e informou-a de que ela morrera esmagada por uma máquina da construção, quando fiscalizava uma obra. Ela era engenheira e tinha-o ido substituir, porque a hora coincidia com as aulas da filha. Chamava-se Helena e a filha Isabel.

Ela esboçou um sorriso, com receio de o magoar e contou-lhe que se chamava Helena e a sua mãe Isabel e, por acaso, muda como ela.

Paulo sorriu e num impulso pegou-lhe na mão e beijou-a.

Isabel, passada a surpresa, afagou-lhe a cabeça, agradecendo o gesto de amizade e respeito espontâneo.

Viram-se mais duas ou três vezes no café e conversaram animadamente, despedindo-se com dois beijos na face.

Um mês depois, Paulo foi assistir a um concerto de piano e qual não foi o seu espanto ao verificar que era Helena, a pianista.

Adorou o espetáculo. No fim, Helena agradeceu em linguagem gestual os aplausos e a presença de todos, aproveitando para anunciar para daí a quinze dias, outro concerto com o mesmo fim deste: angariar verbas para a Associação dos Mudos.

Esperou a oportunidade para ir ter com Helena e quando ela já se encontrava só, para a felicitar pessoalmente e para lhe pedir autorização para lhe beijar as prodigiosas mãos capazes de tal magia.

Helena sorriu e um pouco acanhada perguntou-lhe se o podia beijar.

Aflito, Paulo receou que ela se sentisse obrigada a agradecer-lhe os elogios bem merecidos que lhe dera.

Helena percebeu a hesitação. Puxou-o para si, escondendo-se por trás dos reposteiros do palco e beijou-o de forma pouco hábil, colocando-lhe simultaneamente a mão no interior das calças, dizendo-lhe com uma voz trémula de desejo:

-Quero-te.

Paulo levantou-lhe suavemente a blusa, beijou-lhe o umbigo,

levantou-a ao colo dizendo-lhe:

- Também te quero!

Nesse mesmo dia passaram a viver juntos, oferecendo-lhe Helena a sua pureza e o seu amor, colhendo de Paulo a sua doçura e a sua entrega total.

Um ano depois nasceu a primeira das quatro meninas e qual delas a mais tagarela.

Jorge C. Chora

1/6/2024

Sem comentários:

Enviar um comentário