quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A SENHORA QUE SOFRIA DE AEROFAGIA

 

Nasceu enorme e ainda maior se tornou, ao crescer e ao chegar à idade adulta.

Sofria de aerofagia e não conseguia passar despercebida, mesmo que quisesse.

Na rua onde morava, com o passar dos anos e a morte de muitos dos comerciantes idosos que ali exerciam o seu ofício, as lojas foram sendo ocupadas por comerciantes de várias proveniências, tais como:  chineses, paquistaneses, passando por indianos e africanos de várias proveniências.

A senhora envergonhava-se dos flatos sonoros que dava ao passar pelas suas portas. Os comerciantes olhavam-na de lado, atribuindo o facto ao desprezo que ela por eles tinha.

Delicada como era, decidiu explicar-lhes a sua doença, embora muito envergonhada. Chegou a propor-lhes aprender o início de uma canção de que gostassem e ela esforçar-se-ia por reproduzir alguns desses sons.

- Não é preciso, minha senhora. Não faça isso, pois ficaria mais tempo à nossa porta e seria mais notada!

- Têm razão, peço desculpa.

- Pode é fazer-nos um grande favor…

-Digam, se eu puder …

-Ali, aquela sede política cujos membros nos insultam todos os dias e todos os dias nos criam problemas, é que podia mudar-se para outro local se fosse possível…

-Como?

- Se a senhora fizesse todos os dias os seus telefonemas, o mais demorados possíveis, à sua porta e ali permanecesse até conseguir fazê-los todos…

- Percebi…

Dois meses depois a sede mudou-se.

A partir dessa altura a senhora passou a ter desconto em todas as lojas da rua. Ninguém mais se incomodou com os sonoros flatos, até porque eram só sonoros e quase nada fedorentos.

   Jorge C. Chora

20/11/2025

 

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