Nasceu enorme e ainda maior se tornou, ao crescer e ao
chegar à idade adulta.
Sofria de aerofagia e não conseguia passar despercebida,
mesmo que quisesse.
Na rua onde morava, com o passar dos anos e a morte de
muitos dos comerciantes idosos que ali exerciam o seu ofício, as lojas foram
sendo ocupadas por comerciantes de várias proveniências, tais como: chineses, paquistaneses, passando por
indianos e africanos de várias proveniências.
A senhora envergonhava-se dos flatos sonoros que dava ao
passar pelas suas portas. Os comerciantes olhavam-na de lado, atribuindo o
facto ao desprezo que ela por eles tinha.
Delicada como era, decidiu explicar-lhes a sua doença,
embora muito envergonhada. Chegou a propor-lhes aprender o início de uma canção
de que gostassem e ela esforçar-se-ia por reproduzir alguns desses sons.
- Não é preciso, minha senhora. Não faça isso, pois ficaria
mais tempo à nossa porta e seria mais notada!
- Têm razão, peço desculpa.
- Pode é fazer-nos um grande favor…
-Digam, se eu puder …
-Ali, aquela sede política cujos membros nos insultam todos
os dias e todos os dias nos criam problemas, é que podia mudar-se para outro
local se fosse possível…
-Como?
- Se a senhora fizesse todos os dias os seus telefonemas, o
mais demorados possíveis, à sua porta e ali permanecesse até conseguir fazê-los
todos…
- Percebi…
Dois meses depois a sede mudou-se.
A partir dessa altura a senhora passou a ter desconto em
todas as lojas da rua. Ninguém mais se incomodou com os sonoros flatos, até
porque eram só sonoros e quase nada fedorentos.
Jorge C. Chora
20/11/2025

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