Gotas de suor escorriam da testa de Eduarda. As suas mãos ocupavam-se a colher amoras silvestres. Era Verão, estava-se em Agosto e eram quase quatro da tarde. Ao seu lado e ocupadas na mesma tarefa encontravam-se Laura e Francisca. Eram colegas de escola, encontravam-se de férias e todas partilhavam um gosto: adoravam compota de amoras silvestres feitas pela D. Adelaide, mãe de Francisca.
A destreza de Laura não evitou que se tivesse picado num dedo e parasse a colheita para chupar o pingo de sangue. Francisca ao ver o que sucedera à amiga apressou-se a depositar as amoras que tinha, no chapéu que estava a seus pés, para a auxiliar. Ao debruçar-se sentiu um restolhar e pareceu-lhe ver umas folhas a mexerem-se no chão. Parou a observar. Eduarda e Laura imobilizaram-se.
- O que se passa Francisca?
- Silêncio, há aqui qualquer coisa… - respondeu-lhes, colocando o dedo indicador em frente aos seus lábios.
Calaram-se e colocaram-se à escuta.
- Estou a ouvir qualquer coisa… - disse Laura.
- Eu também - concordou Eduarda.
Os sons começaram a ouvir-se de forma mais nítida. Eram latidos sem margem de dúvida. Apressaram-se a afastar as folhas e surgiu uma bola de pêlo amarelo: era um cachorro.
- É meu! - bradou Eduarda.
- Eu também o quero… - reclamou Laura.
Francisca calou-se. As duas amigas continuaram a discutir e a esgrimir argumentos.Com cuidado Francisca pegou no cãozinho e quando o virou para si verificou, e as amigas também, que ele tinha um olho inchado, fechado, e o peito ensanguentado.
- Pensando melhor, a minha mãe é capaz de não achar muita graça a um cãozinho lá em casa - comentou Eduarda, disfarçando um esgar de repulsa.
- Não tinha pensado nisso. Tens toda a razão! A minha também precisa de ser poupada e evito-lhe dissabores - apressou-se Laura a dizer.
Francisca levou-o e D. Adelaide acolheu-o e ajudou a tratá-lo. Um mês depois tornou-se uma autêntica beleza canina e foi baptizado pelo trio de amigas como “Pitt”, mas depois só “Brad”, inspiradas no seu ídolo.
Eduarda e Laura não deixariam passar um dia, um único que fosse, sem que dissessem:
- Então Francisca, quem são as amigas, que te deixaram ficar com o Brad?
Jorge C. Chora
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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Texto que pode ser lido pelos mais pequenos ou aos netos dos amigos.
ResponderEliminarTexto muito bonito, com uma história repleta de simplicidade.
ResponderEliminarMeu amigo: Saber ver é sentir o que se olha
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