Vou contar-vos a história de uma gata vaidosa. Chamava-se Renhau-Nhau e descendia de uma antiga, ou melhor dizendo, antiquíssima família de felinos.
Uma sua antepassada tinha tido como dona, D. Teresa, e Tareco, o marido da referida gata, por incrível que pareça, pertencia a Egas Moniz. Quando falamos de D. Teresa, é claro que falamos da mãe do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques. Quanto a Egas, é evidente que, embora tenhamos duas figuras muito importantes da nossa história com esse nome, falo da primeira, do aio do nosso rei, daquele que ainda agora falámos.
A gata era muito vaidosa e passava os dias a espreguiçar-se e a ver-se ao espelho. Recusava dar-se, ou mesmo falar, com a maioria das outras gatas pois não tinham a sua dignidade:
-Que horror! Tão rafeiras que elas são… mesmo desinteressantes…
Quando passava por elas até fingia não as ver. Eram gatas rafeiras, como ela dizia, e ela, afinal, uma Renhau – Nhau, com hífen e tudo. O hífen não é só o tracinho que separa o Renhau do Nhau: este tracinho era a coisa mais importante, pois era ele que lhe atribuía raça e a separava dos rafeiros, pensava ela.
A nossa gata, comportou-se de tal modo com as suas amigas, que elas decidiram retribuir-lhe da forma como eram tratadas: deixaram de lhe falar e fingiam não a ver.
Triste e só ficou Renhau-Nhau. A cada dia que passava ela emagrecia, o pêlo caía-lhe e os olhos perdiam o brilho. A princesa tornou-se uma bruxa, daquelas antigas, mesmo muito, mas mesmo muito feia.
Tudo o que era gato ou gata fazia troça da Renhau e cantavam sempre que a viam:
Aí a Renhau que merece tau tau
Tão vaidosa qu`ela era
E feiosa qu`ela está
E a outrora bela Renhau chorava, e chorava ainda mais quando, mesmo as gatas que ela nunca tinha visto cantavam com quanta força tinham os versos que a magoavam:
Aí a Renhau que merece tau tau
Tão vaidosa qu`ela era
E feiosa qu`ela está
Foi por essa altura que ela conheceu o mais rafeiro dos gatos, o Faneca. Alegre, brincalhão e amigo de todos, tratou a Renhau-Nhau com a simplicidade e delicadeza que dispensava a todos os que o rodeavam, como um verdadeiro príncipe que era, pouco se preocupando com o facto dela parecer ou não uma bruxa.
À medida que o tempo foi passando e o contacto com o mais rafeiro dos rafeiros se foi intensificando, o comportamento da nossa gata alterou-se, começou a aprender a respeitar os que a rodeavam, recuperou a sua beleza e, espanto dos espantos, passou a gostar também dos que eram diferentes dela.
Como acabou esta história?
Renhau-Nhau agradeceu ao deus dos gatos a sorte que tinha tido, e sempre que se dirigia ao seu gato rafeiro dizia cheia de nhau…nhaus e admiração:
-Meu príncipe…
E o mais rafeiro entre os rafeiros, sempre que isto ouvia, afagava-lhe as orelhas felpudas e respondia-lhe:
-Diz princesa…
Jorge C. Chora
sábado, 27 de fevereiro de 2010
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Para quem tem filhos pequenos ou amigos com netos. Podem ser lidas aos que ainda não sabem ler.
ResponderEliminarOlá Jorge! Muitos parabéns, já li as tuas histórias e gostei muito!
ResponderEliminarEsta, da gata renhau, já está de parte para um dia mais tarde contar aos meus netos!!!
São todas muito boas e com a sua simplicidade conseguem transmitir uma série de valores...