Nas festas dedicadas à Santa era costume leiloarem os mais diversos produtos, entre os quais aves de capoeira. Chegada a vez do galo, este arrancou um poderosíssimo córócócó que despertou a feira e os licitadores. Foi disputado por inúmeros interessados e acabou por vir parar às mãos de um casal que o trouxe para a capital.
O destino final do pomposo galo era retornar à província, à aldeia a que pertenciam os novos proprietários para, quiçá, ser assado pelo Natal.
Quando passavam em frente à loja do bairro, resolveu a jovem ave enclausurada começar a cacarejar a plenos pulmões:
-Cócórócó…cócórócó…
O proprietário da loja, conhecido pala alcunha de “Pavão”, tal o calibre de vaidade que apresentava, assomou à porta e disse:
-Se querem gozar ao menos tragam um pavão…agora o tretas de um galo, por favor…
O galo ouviu e não gostou. O” tretas de um galo?”. Toda a noite cacarejou, ofendido com o que ouvira.
Logo pela manhã, um fiscal bateu-lhes à porta:
-É aqui que mora um galo que cacareja noite e dia? Tivemos uma denúncia…
De nada valeu dizerem-lhe que daí a uns dias iriam à terra e levariam o galo.
-À hora do almoço passarei por aqui para me assegurar de que ele teve o fim merecido. -sentenciou num tom que não admitia réplica.
Às 13h em ponto o fiscal bateu à porta. Foi convidado a entrar e a provar o pitéu.
À primeira garfada, tão duro era o galo que partiu um dente.
-Ai…ai…meus ricos dentes – exclamou dorido.
No seu esconderijo, o jovem galo só não desatou a cacarejar, porque os donos lhe tinham amarrado o bico.
Ainda hoje o estupor do galo está vivo. Cacareja de tal modo, que rivaliza com a sirene dos bombeiros.
Jorge C. Chora
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
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Só os perús morrem na véspera...
ResponderEliminarAdorei a história... um bocadinho como aquelas pessoas a quem nos apetece mandar calar, nem que seja só por um bocadinho!
ResponderEliminarParabéns, Chora, as tuas histórias são fantásticas, para miúdos e graúdos, não há por aí quem as edite em livro?????
Ana Lourenço