terça-feira, 3 de agosto de 2010

Quem sai aos seus...

Eduardo e Fábio estavam irritados com o avô. Recusavam ser designados como conservadores. Embora fossem muito jovens, sabiam ou pelo menos pressentiam que aquela designação não pretendia acrescentar-lhes nada de bom.

-Ó avó, conservadores porquê? Não são só os velhos, perdão, os idosos… – emendaram - que são conservadores?

-Nada disso meninos! Vocês com essa tenra idade, ainda nem à adolescência chegaram, e já o são profundamente – respondeu-lhes o avô.

-Mas ó avô, o que queres dizer com isso…diz-nos porque somos conservadores…

-Só com uma condição…

Entreolharam-se, torceram o nariz e comentaram, receosos:

-Mau, as tuas condições trazem água no bico…quase sempre….

-É pegarem ou largarem… - pressionou o avô.

-Aceitamos.

Um aperto de mão para selar o acordo. – propôs o avô.

No canto da sala, a avó apreciava a cena e esboçou um leve sorriso.

-Então é possível saber por que motivo somos conservadores?

-Claro…claro – assentiu - e foi andando para o quarto dos netos.

Quando chegou ao destino, apontou para as camisas que estavam no chão e perguntou-lhes:

-Quem é que as conserva ali no chão? E as meias? E as cuecas? A partir deste momento, já sabem, toca a arrumar tudo…

A avó, de olhos esbugalhados, olhava para o marido e para os netos e, mal fez menção de falar, o avô colocou o dedo indicador colado aos seus próprios lábios e sussurrou-lhe ao ouvido:

-Eu não me ofendo se me chamares conservador!

-Pois é, quem sai aos seus…- e na mão, abanou a camisa do marido que acabara de apanhar do chão.

Jorge C. Chora

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