Eduardo e Fábio estavam irritados com o avô. Recusavam ser designados como conservadores. Embora fossem muito jovens, sabiam ou pelo menos pressentiam que aquela designação não pretendia acrescentar-lhes nada de bom.
-Ó avó, conservadores porquê? Não são só os velhos, perdão, os idosos… – emendaram - que são conservadores?
-Nada disso meninos! Vocês com essa tenra idade, ainda nem à adolescência chegaram, e já o são profundamente – respondeu-lhes o avô.
-Mas ó avô, o que queres dizer com isso…diz-nos porque somos conservadores…
-Só com uma condição…
Entreolharam-se, torceram o nariz e comentaram, receosos:
-Mau, as tuas condições trazem água no bico…quase sempre….
-É pegarem ou largarem… - pressionou o avô.
-Aceitamos.
Um aperto de mão para selar o acordo. – propôs o avô.
No canto da sala, a avó apreciava a cena e esboçou um leve sorriso.
-Então é possível saber por que motivo somos conservadores?
-Claro…claro – assentiu - e foi andando para o quarto dos netos.
Quando chegou ao destino, apontou para as camisas que estavam no chão e perguntou-lhes:
-Quem é que as conserva ali no chão? E as meias? E as cuecas? A partir deste momento, já sabem, toca a arrumar tudo…
A avó, de olhos esbugalhados, olhava para o marido e para os netos e, mal fez menção de falar, o avô colocou o dedo indicador colado aos seus próprios lábios e sussurrou-lhe ao ouvido:
-Eu não me ofendo se me chamares conservador!
-Pois é, quem sai aos seus…- e na mão, abanou a camisa do marido que acabara de apanhar do chão.
Jorge C. Chora
terça-feira, 3 de agosto de 2010
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