domingo, 19 de setembro de 2010

Bonito serviço

Uma travagem brusca e uma pequena derrapagem, seguida de uma grande nuvem de poeira assinalou o fim da viagem de autocarro.

Os passageiros saíram afogueados, bufando de calor, arrependidos do meio de transporte que tinham escolhido. Para cúmulo do azar, o ar condicionado tinha-se avariado, tinham tido um furo e ainda uma pequena avaria.

Os passageiros amontoaram-se em redor da bagageira do autocarro para recolherem as respectivas bagagens. À medida que elas eram retiradas os donos iam-nas identificando e levando.

Carla foi a última a receber a mala. Achou-a suja e envelhecida para uma mala que acabara de comprar na véspera. Acabou por não dar muita atenção ao assunto.

Em casa dos familiares onde se alojou, após os cumprimentos da praxe, juntaram-se todos em redor da mala para assistir à sua abertura, à espera dos presentes do costume.

Aberta a mala, os presentes não se contiveram:

-Louvado seja Deus!

-O que é que te está a acontecer?

-Que vergonha Carla!

Por mais que a visada tentasse explicar que a mala não lhe pertencia, ninguém a ouvia e repetiam:

-Louvado seja Deus!
-Bonito serviço…

Carla desistiu de explicar o que quer que fosse. À noite dirigiu-se ao mosteiro local e perguntou se podia falar ao padre que chegara na camioneta da tarde.
Mal se viram, o padre exclamou:

-Não queira saber o que me disseram, quando viram o hábito de freira da irmã, na mala…

-Posso imaginar, senhor padre …se posso…

E logo ali decidiram, depois de trocarem as malas, rezarem uma oração pelas asneiras que não disseram, mas pensaram, face aos problemas que tiveram de enfrentar.

Jorge C. Chora

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