Olhavam e tornavam a olhar para o interior do “ stand”. Aproximavam-se e afastavam-se de modo rápido. Tal como abelhas, esvoaçavam em torno da colmeia, hipnotizados, encadeados, incapazes de se libertarem dos objectos do seu desejo.
A cobiça brilhava nos seus olhos miúdos, saltitando dos lápis para os blocos de papel, passando pelos pequenos bonecos e terminando sabe-se lá em quê. Os gaiatos esfregavam as mãos. Se conseguissem deitar a mão a qualquer coisa: era preciso que fosse uma coisa.
D. Manuela já os tinha topado. Topava-os à légua. Sorriu-lhes e perguntou-lhes:
-Querem escolher algum boneco?
Entreolharam-se.
-E podemos?
-Claro… - e a senhora agarrou em dois pirilampos mágicos e ofereceu-lhos.
-Mas este não tem um olho - reclamou furioso o mais velho.
-Se não tem um olho, então é zarolho… - concluiu a senhora.
-Pois é… - concordou torcendo o nariz.
-Pior era ser cego, não ter olhos … - disse o mais novo.
-Claro, por esse caminho devo estar todo contente por não ser perneta…
-Nem maneta… - tornou o mais novo.
-Bom …zarolho, perneta, maneta, cegueta…a conversa já vai longa, quero o livro de reclamações, porque com tanta deficiência, como posso ficar com ele? Quero de volta o dinheiro que dei por ele.
-Quantos olhos tenho? - perguntou cheia de paciência D. Manuela.
-Dois…
-E acham que eu sou cegueta?
-Quem sabe… - responderam com ar de gozo.
-Então se é possível ser cega com dois olhos, tanto faz ter dois olhos como um ou mesmo nenhum…
-Tem razão. Mais vale ser zarolho do que cegueta de todo. Levo o boneco. – faça-me um embrulho, se não se importa.
Jorge C. Chora
terça-feira, 21 de setembro de 2010
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Imaginem quando forem crescidos...
ResponderEliminar:) Boa, Jorge!
ResponderEliminarTenho lido as histórias todas, mesmo que só de quando em vez comente.
Abraço
Um pirilampo mágico zarolho, maneta e perneta (os pirilampos mágicos não são só uma bola com olhos?)e sabe-se lá sem mais o quê...
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