segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O perfume

Colocou uma gota de perfume no seu delgado pescoço. A reacção foi imediata: a sua pituitária ofendeu-se, o nariz quase se enrugou, e os poucos pêlos que existiam no seu corpo eriçaram-se-lhe.

Arrepiada com o que lhe estava a acontecer, ainda nessa tarde se desfez do fedorento líquido, oferecendo-o a uma amiga que por acaso fazia anos nesse dia.

Mil vezes agradecida lhe ficou a amiga, seduzida pela elegante embalagem que era, só por si, uma obra de arte, algo”retro”, definitivamente muito chique.

O pior estava para vir. Ao chegar a casa, inspirou, sôfrega, o “divino” aroma. Só por milagre não morreu ali mesmo, gaseada pelo terrível perfume, servido na bela embalagem que a levara ao engano.

O desagrado foi tamanho, que ainda hoje qualquer situação profundamente desagradável, tem aquele odor.

E então o que aconteceu ao frasco? Foi pela pia abaixo, dirão os mais bem-intencionados. Nada disso… a história ainda não terminou …

Combalida com o ataque nasal a que fora submetida, logo ali decidiu reagir, e fê-lo também no dia de anos da pessoa que lhe oferecera a prenda.

A oferta era acompanhada por um bilhetinho que rezava assim: Gostei tanto do perfume que me deste que acabei por te comprar um igual.
P.S.- Adquiri-o numa promoção e por isso não aceitam devoluções. Achas que há algum problema?

O bilhete, devido à proximidade do Natal, tinha estampado um querubim.

Jorge C. Chora

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