quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As pulseiras

A senhora escorregou no café e deu uma queda aparatosa. Voou quatro degraus e bateu com as costas no chão. Foi imediatamente socorrida mas por sorte não partiu nada, embora tivesse ficado bastante dorida.

Um jovem que aí trabalhava, resolveu desdramatizar a situação:

-Agora, para lhe passar a dor, o melhor remédio era ir à joalharia e presentear-se com duas pulseiras de ouro maciço.

-A minha dor passava com duas pulseiras de ouro? Por amor de Deus! – enxofrou-se, fazendo uma careta estranha, fungando de modo repetido e remetendo-se ao silêncio.

Aflito com a reacção, o jovem desfez-se em desculpas, arrependido da gracinha:

-Mil perdões, acredite que não tive qualquer intenção de a ofender…longe de mim semelhante propósito…

E a senhora, com uma cara séria, olhou-o bem nos olhos, fungou de novo e disse-lhe:

-Não se aflija…o que eu não quero, não admito e considero mesmo ofensivo, é que menospreze a minha dor…

-Mas eu…

-Não me interrompa por favor…deixe-me explicar, fazê-lo entender, compreender bem a situação, a extensão da minha dor…

Cada vez mais apreensivo, o interlocutor torcia os dedos, olhava para o chão, desviando-se do olhar directo e fulminante da senhora.

Ela retomou a palavra, um pouco ofegante:

-O que eu quero dizer é que a minha dor só pode ser compensada, se isso fosse possível, não com duas, mas sim com três pulseiras de ouro maciço!

-Se me permite, posso dar-lhe uma sugestão? – perguntou o jovem, um pouco receoso.

-Claro…

-No fim da rua há uma ourivesaria que é de um tio meu…ele faz-lhe um desconto se for lá comigo…

Jorge C. Chora

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