sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A cozinheira que trabalhava às escuras

Habituara-se a trabalhar à média luz. À medida que a crise foi apertando, colou-se aos objectivos dos donos do restaurante: poupar a todo o custo. Passou a laborar praticamente às escuras.

Um dia, tamanha era a escuridão na cozinha que fez um arroz de pato no forno, utilizando, sem se aperceber, carne de frango desfiada que estava ao lado da do pato.

-Bonito serviço! – exclamou, quando deu pelo engano.

Calou-se muito bem calada e serviu o prato como se fosse de pato. Um cliente acabou por dar pela troca e reclamou.

A cozinheira, chamada a justificar o engano, negou a pés juntos qualquer eventual engano:

-Deve ser do seu paladar…

-Reafirmo o que disse, não há a mínima hipótese de engano…

Perante a continuação da reclamação, a profissional engendrou uma desculpa:

-Olhe… só se foi pelo facto do pato ter estado ao lado do frango e ter tomado o seu sabor…

O cliente sorriu e concordou com o que ela lhe disse. Continuou o seu jantar, de modo tranquilo, encomendando e consumindo o doce, a fruta, o café e os digestivos.

No final da refeição pediu a conta que rondava cerca de cinquenta euros. Puxou da carteira, tirou cinco euros e colocou-os no pratinho da conta, chamando a cozinheira.

-Quero que a senhora seja testemunha de que estes cinco euros estiveram ao lado desta nota – e abrindo a carteira mostrou-lhe a nota de cinquenta euros que lá tinha.
A cozinheira sorriu e disse:

-Tem toda a razão, ela agora julga ser de cinquenta euros!

Jorge C. Chora

1 comentário: