terça-feira, 8 de março de 2011

Falta colectiva

Perdera o conto aos anos que tinha. Eram tantos que resolveu imitar a sua falecida mulher e respectivas amigas: começou a contá-los para trás. Ainda assim estava nos setenta e cinco anos.

A família estava surpresa com a vontade, por ele manifestada, de se inscrever na Universidade da 3ª idade. Nunca quisera saber de estudos, leituras e outras “esquisitices”desse calibre, como costumava dizer.

O mistério durou semanas e intrigou os familiares de imensos idosos. Assistiam a uma espécie de febre cognitiva tardia, que grassou como uma epidemia, fortalecendo as vontades serôdias de mergulhar na cultura, bebê-la, vivenciá-la.

Espanto dos espantos, foi logo aproveitado pelos filhos para apontar os avós como exemplo de estudo, da valia dos mesmos, independentemente da idade.

No dia da abertura das aulas, a turma dos mais idosos compareceu em peso. Trinta avôs e alguns bisavôs, à hora exacta, estavam à porta da sala esperando a professora. No fim do corredor surgiu uma mulher altíssima, de uma elegância a toda a prova, de cerca de cinquenta anos, trajando um vestido que pedia meças a Dior, Balenciaga ou qualquer outro costureiro da mesma craveira.

-Bom dia senhora professora – cumprimentaram jovialmente os seus alunos.
-Bom dia meus senhores – retribuiu a professora, sorrindo de um modo agradabilíssimo à receptiva assistência, enquanto pedia que os alunos fizessem o favor de se sentarem.

Acomodada a turma, a professora iniciou a apresentação:

-Venho dar-vos a boas vindas e comunicar-vos que a minha mãe, por motivos de organização de horários, será a vossa professora.

No dia seguinte, à hora aprazada, só a mestra compareceu. Uma hora depois ,olhou para o relógio e exclamou, furiosa:

-Falta colectiva!

Jorge C. Chora

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