segunda-feira, 16 de maio de 2011

A quem o diz!

Olhou, remirou e depois afastou-se um pouco da prateleira onde estava o que queria comprar. Tornou a aproximar-se, pegou no artigo, sopesou-o, avaliando-lhe a forma, a cor, deixando de lado o sabor e o cheiro em virtude do produto ser enfrascado.

Atrás do balcão, a vendedora reparou nos gestos meticulosos da cliente. Aproximou-se, cumprimentou-a e iniciou a conversa:

-Também é do ramo?

-Nota-se à légua não é!

-É verdade, só quem ama a nossa profissão. Hoje em dia as pessoas não amam o trabalho. Gostam só do dinheiro…

-Tem toda a razão. Dinheiro, pouco trabalho, muito descanso… - assentiu a colega cliente.

-O mundo está perdido! – exclamaram em uníssono.

Conversaram mais de meia hora. Encaixavam-se uma na outra na perfeição. Se fossem gémeas não seriam tão parecidas. Concluíram que os funcionários nos primeiros vinte anos de trabalho deveriam ser pagos ao nível do salário mínimo e só depois, pequenos aumentos…caso fossem merecidos. Caíram nos braços uma da outra:

-Cara amiga, considere-se contratada!- gritaram em êxtase uma à outra, sonhando ter nas sua lojas, pelo menos uma empregada como aquela que tinham acabado de conhecer.

-Cruzes canhoto! Livra! - desabafaram surpreendidas, quando finalmente descobriram o que ambas realmente queriam uma da outra.


Jorge C. Chora

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