domingo, 1 de maio de 2011

A revolta da catatua

A barriga tremia-lhe com os ataques de riso, empurrando a mesa e fazendo rodopiar e dançar os copos. Expelia baforadas de fumo fedorento no intervalo das risadas. O cão e a catatua, bem ao seu lado, fungavam, tentando esquivar-se às nuvens asfixiantes que lhes acertavam em cheio. O cão, zonzo, cambaleava e ficava em tal estado que mais parecia miar do que latir. A catatua, essa, tão desgraçada ficava, que emitia sons não identificados que pouco a pouco se tornavam audíveis:

-turr...truu...turr...

O dono, morto de riso, dizia aos urros:

-Ela julga que é uma rola! - e dava murros na mesa, fazendo os copos saltar como se fossem formigas.

-E se tu continuares a fumar essa cangalhada e a beberes essa zurrapa, ainda te transformas em qualquer coisa estranha… - advertiram os amigos.

-Deixem-no beber e fumar porque assim paga impostos até se fartar…quanto mais pagar melhor para nós…deixa-nos mais aliviados – concluiu um dos presentes.

- Glu,glu ….glu … A bebida sou eu que a faço no fundo do quintal…o tabaco é da candonga…. ! – desdenhou trocista.

Os amigos ao ouvirem-no rir ficaram estarrecidos. Aquele som gutural era parecido com… não sabiam bem… um bicharoco qualquer…

Um bando de gaiatos que saía da loja de doces mesmo ao lado, chamando-se uns aos outros pelas alcunhas, gritou bem junto ao portão:

-Olha Peru Velho…

Mal o grito foi proferido, o dono da catatua levanta-se instintivamente, corre para o portão, flecte as pernas e responde ao chamado:

-Glu…glu…glu…

Nesse momento o cão voltou a ladrar e a catatua começou a berrar sem cessar:

-Peru velho…peru velho…

O dono, obediente, apoiando-se ora numa perna ora na outra, ia saltitando e reagindo de pronto:

-Glu…glu…glu

Há quem jure que ouviu o cão rir-se.

Jorge C. Chora

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