Caminhava pela berma da estrada de modo inseguro. Apoiado em canadianas ia à horta tratar os tomateiros. Carregava, suspenso ao pescoço, um alforge cujas bolsas lhe pendiam ao peito e balouçavam ao sabor dos pequenos passos que conseguia dar. Não tinha quem o ajudasse e não se queixava por dois motivos: o primeiro porque nunca tivera esse hábito, o segundo porque nunca tivera a quem.
Ia pensando que a aliança entre a sua idade, que crescia a olhos vistos, e a doença que persistia em atacá-lo, lhe afectava a marcha e os seus pequenos afazeres, quando sentiu uma voz atrás de si:
-Pst…pst…para onde é que o cavalheiro vai?
Desconhecendo por completo a voz, esteve vai-não-vai para se abespinhar. Qualquer coisa lhe dizia que algo estava para acontecer.
-Então o tiozinho não fala com os pobres? Manias de rico…
A dor do joelho acentuou-se. Mau sinal, pensou. Resolveu conter-se e ripostou:
-A única riqueza que tenho, está nestas bolsas que levo ao peito e, caso faça muita questão, sou homem para a partilhar consigo…
Ainda mal acabara a frase quando sente em cima de si dois braços a agarrá-lo e as mãos do amigo do alheio a enfiarem-se nas bolsas do seu alforge e a roubarem-lhe o conteúdo.
Quando o larápio se deu conta de que o que tinha nas mãos era estrume, enfureceu-se:
-Está a gozar-me? Então isto é que é a sua riqueza?
-Então o senhor ladrão não sabe, ou ninguém lhe ensinou, que o que é ouro para uns é trampa para outros?- e, sem que o larápio esperasse, assentou-lhe uma bengalada no alto do cocuruto que o deixou a cacarejar.
Um vizinho que por acaso ali passava, dissuadiu o fedorento larápio de reagir, dando-lhe uma biqueirada de uma força tamanha que o homem deixou de cacarejar para passar a zurrar.
Já imaginou, caro leitor, se acontecesse o mesmo a todos aqueles que nos vêm aos bolsos buscar as nossas migalhas?
Jorge C. Chora
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
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