segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Juro e torno a jurar

Malandro como ele, só ele próprio. Mentia tanto ou tão pouco que se convencia de que o que dizia era a pura verdade, quentinha, acabada de sair do forno e servida em salva de prata. Jurava por tudo e por nada. Dizia-se pobre e era rico e afirmava a pés juntos que se os amigos soubessem até iam pedir para lhe dar.

-Coitadinho! –exclamavam os ouvintes.

-Sou o mais humilde da minha rua… -lamuriava o ricalhaço.

-Ai se a falsidade matasse…

O malandro ria-se, contente com as suas petas e com o facto de ninguém as aceitar, comprazendo-se e valorizando-se pelos nãos.

Gabava-se da sua fealdade, coisa que ninguém desdizia por ser tão evidente, para logo de seguida, à boca cheia concluir:

-Mas nenhuma resiste ao meu enorme encanto secreto…não sei se me faço entender…neste caso tamanho é qualidade… -e esticava-se, mostrando um chumaço, um verdadeiro e quase ofensivo volume quase a rebentar-lhe as calças.

Ninguém se ria, contra factos não havia argumentos, resmungavam mas ninguém ousava dizer nem aí nem ui, perante a demonstração de virilidade do minorca, do malandro mor do bairro e das redondezas.

Ainda não acabara de se esticar e pavonear, quando a mulher, furiosa, lhe grita e o ameaça da janela:

-Anda cá trazer-me a cenoura que me roubaste! Todos os dias me roubas a maior e tu nem delas gostas!

-Não te apoquentes querida…foi para dar às pombinhas…

Jorge C. Chora

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