sábado, 7 de janeiro de 2012

O servo de Midas

O facto do anafado e beberrão Sileno, se ter perdido da comitiva do seu amigo Baco, o deus Baco, é de todos conhecido. O que se seguiu também é do domínio público: o rei Midas encontrou o borrachão, tratou-o às mil maravilhas e entregou-o são e salvo ao deus do vinho. Felicíssimo pelo seu amigo ter sido encontrado, Baco concedeu a Midas a concretização de um desejo: transformar em ouro tudo em que o rei tocasse. Até aqui não há novidade nenhuma.

Quando Baco concedeu ao rei Midas a concretização do seu desejo, a de transformar em ouro tudo em que tocasse, mal sonhava que um dos servos do rei estava a espreitá-los. O servo viu Baco ir à caixa do pó mágico e lançá-lo sobre Midas.

“Tudo Quer” era o nome deste servo que ficou possesso ao ver o rei tocar numa maçã e esta transformar-se em ouro. A cobiça cegou-o.

Um frenesim demoníaco tomou conta dele. Esgueirou-se porta fora e correu para o local onde estava a caixa com o pó que vira ser lançado sobre Midas. Nervoso, sôfrego, incapaz de controlar o desejo, mergulhou a mão na caixa trazendo uma enorme quantidade de pó mágico, que se apressou a atirar sobre si próprio. Sentiu o peito rebentar-lhe de felicidade. Já podia ter tudo o que quisesse. Veloz, dirigiu-se ao celeiro do palácio, lançou-se sobre um fardo de palha e abraçou-o de imediato. Qual não foi o seu espanto quando, em vez do fardo se transformar em ouro se tornou num enorme monte de esterco. Levantou-se mais rápido do que um relâmpago e atirou-se para outro fardo: apareceu um segundo monte de esterco!

Com a cabeça perdida, correu para uma sela pendurada na parede. A sela, depois de tocada, transformou-se no terceiro monte de esterco. Recusou-se a acreditar no que lhe estava a acontecer. No dia seguinte, foi com satisfação que verificou que podia tocar novamente em tudo, que nada, mesmo nada acontecia. Quando se convenceu que o sortilégio tinha deixado de existir teve a muito desagradável surpresa de verificar que no dia seguinte voltara ao mesmo: Tudo em que tocava se transformava em esterco.

Como iria reagir o seu rei ao vê-lo transformar em porcaria tudo aquilo em que tocasse?”Tudo Quer” arrependeu-se mil vezes do acto que cometera. Fugiu e só parou ao pé de um porto onde estavam ancorados alguns barcos. Pela calada da noite logrou embarcar sem que ninguém o visse. O navio partiu no dia seguinte e navegou vários dias.

Acabou por desembarcar num porto desconhecido, na cidade de Olissipo. Por lá se casou e teve numerosa prole. O único senão é que os seus descendentes herdaram o seu problema: dia sim dia não, tudo em que tocavam se transformava em mer..

Foram tão numerosos os descendentes que povoaram boa parte do território europeu e alguns partiram com Colombo para as Américas.

Muitos deles acabaram por se dedicar à política, à banca e aos negócios imobiliários…

Livra!

Jorge C. Chora

1 comentário:

  1. Mui estimado guru das belles lettres, pois tenho a dizer-te que a essa multidão de indivíduos que proliferou, não só por aqui como por outras paragens, foi bafejada, dir-se-ia não com o famoso toque de Midas, mas sim com o toque... de Merdas! Bom mesmo era encontrar-se o antídoto, mas parece que já se vai substancialmente tarde, pois, onde quer que se mexa, parece emanar de imediato um pungente cheiro a esterco! Porque será?...

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