quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O bojudo

As recomendações apresentadas para ocupar a vaga laboral eram irrecusáveis: sem estudos, sem experiência, sem opinião, com a garantia que diz a tudo que sim ou que não, ao sabor do que o chefe resolve dizer ou desdizer.

Admitido por urgente conveniência de serviço, colocaram-no na antecâmara de um chefe. Está à porta e sorri, abana a cabeça e faz que sim. É um sim-sim.

Passaram-se os anos e tornou-se bojudo, desdentado, fedorento, por desleixo e excesso de boa vida e incapacidade para tratar de si. Está agora colocado à porta da sala de leitura, logo à entrada de quem entra, de língua de fora, para que nela lhe passem os dedos e desfolhem as páginas dos jornais.

Sobreviveu a todas as remodelações e recentemente foi colocado num serviço, cuja utilidade se desconhece, de boca escancarada, humedecendo os sapatos de quem os quer limpos antes de entrar.

Para todos os efeitos é director e sempre ganhou como tal. É, foi e será sempre indispensável. Para os devidos efeitos já foram nomeados três familiares como seus ajudantes. Nenhum emigrará.

Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário