Os dois pequenos vasos, um com uma roseira e o outro
com uma laranjeira, ambas meio murchas, eram transportados com todo o cuidado.
Pé ante pé, os seus carregadores, esforçavam-se por mantê-las à sombra,
deixando aqui e acolá que ficassem expostas ao sol por uma questão de saúde.
Atrás deles seguia uma pequena multidão que se
arrastava nos seus fatos domingueiros. Alguns carregavam regadores e, de
quinhentos em quinhentos metros, revezavam-se e deitavam-lhes, à vez, um pingo
de água.
Quando o pingo caía, a multidão orava e formulava os
seus desejos de modo audível:
-Deus queira que sobrevivam e dêem frutos e flores.
Que tenham forma e conteúdo! Que sejam bonitas, suculentas e correspondam às
nossas expectativas!
E a procissão seguia, lenta mas determinada, pelas
vielas do burgo, podendo ver-se, penduradas nas janelas, toalhas de plástico desbotadas fazendo as vezes das antigas colchas nos dias festivos.
Um vento fraco, mas persistente, atingiu os
integrantes da procissão. Lamentaram as condições climáticas adversas e
queixaram-se amargamente: era só o que nos faltava!
A marcha parou. Trocaram-se impressões. Ninguém se
entendia e começaram a surgir estratégias peregrinas. A que vingou foi a que
propôs acabar com a rega gota a gota, porque podia amolecer a terra,
enfraquecer as raízes e ser levada pelo vento.
Entretanto a ventania aumentou.
Ainda a procissão ia a meio quando alguém gritou:
Elas morreram!
-Quem…quem …?- interrogaram-se, assustados,
entreolhando-se.
-As plantas…
Uma debandada colectiva teve lugar. A roseira e a
laranjeira ficaram abandonadas, no meio da rua. A secura matou-as.
As pessoas que tinham estado presentes, procuraram,
num frenesim enlouquecido, encontrar amendoeiras, tangerineiras, medronheiros…o
que aparecesse e os abrigasse. Até este momento…nada…
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário