terça-feira, 7 de maio de 2013

A Procissão das flores


Os dois pequenos vasos, um com uma roseira e o outro com uma laranjeira, ambas meio murchas, eram transportados com todo o cuidado. Pé ante pé, os seus carregadores, esforçavam-se por mantê-las à sombra, deixando aqui e acolá que ficassem expostas ao sol por uma questão de saúde.

Atrás deles seguia uma pequena multidão que se arrastava nos seus fatos domingueiros. Alguns carregavam regadores e, de quinhentos em quinhentos metros, revezavam-se e deitavam-lhes, à vez, um pingo de água.
Quando o pingo caía, a multidão orava e formulava os seus desejos de modo audível:

-Deus queira que sobrevivam e dêem frutos e flores. Que tenham forma e conteúdo! Que sejam bonitas, suculentas e correspondam às nossas expectativas!

E a procissão seguia, lenta mas determinada, pelas vielas do burgo, podendo ver-se, penduradas nas janelas, toalhas de plástico desbotadas fazendo as vezes das antigas colchas nos dias festivos.

Um vento fraco, mas persistente, atingiu os integrantes da procissão. Lamentaram as condições climáticas adversas e queixaram-se amargamente: era só o que nos faltava!

A marcha parou. Trocaram-se impressões. Ninguém se entendia e começaram a surgir estratégias peregrinas. A que vingou foi a que propôs acabar com a rega gota a gota, porque podia amolecer a terra, enfraquecer as raízes e ser levada pelo vento.
Entretanto a ventania aumentou.

Ainda a procissão ia a meio quando alguém gritou: Elas morreram!

-Quem…quem …?- interrogaram-se, assustados, entreolhando-se.

-As plantas…

Uma debandada colectiva teve lugar. A roseira e a laranjeira ficaram abandonadas, no meio da rua. A secura matou-as.

As pessoas que tinham estado presentes, procuraram, num frenesim enlouquecido, encontrar amendoeiras, tangerineiras, medronheiros…o que aparecesse e os abrigasse. Até este momento…nada…

Jorge C. Chora


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