domingo, 1 de dezembro de 2013

Hotel Clarabóia

O Sol acabou de se pôr. O rabirruivo assumiu o seu posto de pernoita e abrigo. Penetrou pelo espaço entre a clarabóia do prédio e o telhado. Instalou-se no rebordo interior da caixa das escadas.

O pequeno Francisco entrou e sorriu. Acabou de ver o passarinho e sossegou ao pensar:”Já está no quentinho”.

O sorriso quase se apagou ao observar melhor o pássaro. Estava na berma da saliência e ele achou que o rabirruivo corria perigo.

-Vai mais para dentro…podes cair…

O pássaro saiu do seu silêncio e respondeu-lhe:

-Não te preocupes…mesmo que caia, posso sempre voar…

-E se adormeceres?

-Bom…com a queda acordo, abro as asas e voo… -o mesmo não acontece contigo, pois não as tens e cairás…

-Mas porque não tenho asas?

-Porque não precisas  delas … não és um passarinho como eu…

-Bom, então dorme bem - e entrou para sua casa, pé ante pé, não sem que antes, pelo canto do olho, verificasse se o pequeno amigo se mantinha no mesmo sítio.

De repente, apanhou um susto, ao ver o passarinho cair. Ainda não se refizera, quando o viu dirigir-se a si, esticar o bico, beijar-lhe a testa, e dizer-lhe:

-Dorme bem, meu bom amigo.

E no mesmo patamar, Bli, a gata amarela, que saíra aproveitando a porta aberta do andar, de olhos abertos, assistiu ao voo e lamentou-se:”ainda não é desta vez que sinto no meu palato o sabor deste rabirruivo!"


Jorge C. Chora

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