O Sol acabou de se pôr. O rabirruivo assumiu o seu posto de pernoita
e abrigo. Penetrou pelo espaço entre a clarabóia do prédio e o telhado.
Instalou-se no rebordo interior da caixa das escadas.
O pequeno Francisco entrou e sorriu. Acabou de ver o
passarinho e sossegou ao pensar:”Já está no quentinho”.
O sorriso quase se apagou ao observar melhor o pássaro.
Estava na berma da saliência e ele achou que o rabirruivo corria perigo.
-Vai mais para dentro…podes cair…
O pássaro saiu do seu silêncio e respondeu-lhe:
-Não te preocupes…mesmo que caia, posso sempre voar…
-E se adormeceres?
-Bom…com a queda acordo, abro as asas e voo… -o mesmo não
acontece contigo, pois não as tens e cairás…
-Mas porque não tenho asas?
-Porque não precisas delas
… não és um passarinho como eu…
-Bom, então dorme bem - e entrou para sua casa, pé ante pé,
não sem que antes, pelo canto do olho, verificasse se o pequeno amigo se
mantinha no mesmo sítio.
De repente, apanhou um susto, ao ver o passarinho cair.
Ainda não se refizera, quando o viu dirigir-se a si, esticar o bico, beijar-lhe
a testa, e dizer-lhe:
-Dorme bem, meu bom amigo.
E no mesmo patamar, Bli, a gata amarela, que saíra
aproveitando a porta aberta do andar, de olhos abertos, assistiu ao voo e
lamentou-se:”ainda não é desta vez que sinto no meu palato o sabor deste
rabirruivo!"
Jorge C. Chora
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