terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O tocador de didgeridoo

                                            


Sons ritmados e atraentes, soprados pelo tocador de didgeridoo abraçavam os transeuntes que paravam para o ouvir.

 Entusiasmado, girava o seu tronco como se de um dervixe se tratasse e, ao mesmo tempo, num jogo harmonioso, percutia dois pratos metálicos.

A caixa de moedas que tinha à sua frente, continuava vazia. Olhava-a como que hipnotizado, incrédulo com a avareza dos ouvintes.

Começou a cantar, quase murmurando no início:” …e eu também como, e já estou preocupado com a minha barriga…ela está vazia…os meus gases já não têm cheiro…” E os seus lamentos iam crescendo de intensidade.

A caixinha encheu-se e o artista esmerou-se ainda mais e, cheirando os espectadores, continuou:” …amanhã já poderei comer uma feijoada, como esta linda senhora,  ou camarões como aquela jovem…”

Tocou mais uns minutos, levantou-se e agradeceu:” Obrigado meu Deus por recompensares a minha arte e, já agora, por encheres a minha barriga e por permitires restabelecer o meu equilíbrio intestinal.”

Mais à frente, um acordeonista, com a caixa vazia à frente, foi interpelado pelo artista do didgeridoo,  enquanto lhe dava a primeira moeda:
-Os seus gases também não cheiram a nada?
-

Jorge C. Chora

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