Sons ritmados e atraentes, soprados pelo tocador de
didgeridoo abraçavam os transeuntes que paravam para o ouvir.
Entusiasmado, girava
o seu tronco como se de um dervixe se tratasse e, ao mesmo tempo, num jogo
harmonioso, percutia dois pratos metálicos.
A caixa de moedas que tinha à sua frente, continuava vazia.
Olhava-a como que hipnotizado, incrédulo com a avareza dos ouvintes.
Começou a cantar, quase murmurando no início:” …e eu também
como, e já estou preocupado com a minha barriga…ela está vazia…os meus gases já
não têm cheiro…” E os seus lamentos iam crescendo de intensidade.
A caixinha encheu-se e o artista esmerou-se ainda mais e,
cheirando os espectadores, continuou:” …amanhã já poderei comer uma feijoada,
como esta linda senhora, ou camarões
como aquela jovem…”
Tocou mais uns minutos, levantou-se
e agradeceu:” Obrigado meu Deus por recompensares a minha arte e, já agora, por
encheres a minha barriga e por permitires restabelecer o meu equilíbrio
intestinal.”
Mais à frente, um acordeonista, com
a caixa vazia à frente, foi interpelado pelo artista do didgeridoo, enquanto lhe dava a primeira moeda:
-Os seus gases também não cheiram a
nada?
-
Jorge C. Chora
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