terça-feira, 1 de abril de 2014

Já não há alfaiates como os antigos!

       
Encontrei uma girafa que estava de cabeça perdida.
 Dirigia-se ao alfaiate e ia reclamar
Por este lhe deixar os bolsos descosidos.
Queixava-se de que já não havia alfaiates como os antigos,
Que os modernos eram uma desgraça.
Permitiam a qualquer um o livre acesso aos seus bolsos
E por isso bem sentia as mãos que neles se introduziam
A qualquer hora do dia ou da noite, sem dar cavaco
A ninguém e, pelo menos que ela se lembrasse,
 Também não dera a sua autorização.
Tudo lhes servia, fosse pouco ou fosse muito,
E por isso andava de cabeça perdida sem saber o que fazer.
 Alguma culpa o artesão teria de ter no cartório,
Pois essa de deixar os bolsos descosidos
Nem ao demónio lembraria,
E apressou o passo pois desejava lá chegar
E encontrar a porta aberta.
Qual não foi o seu espanto quando ainda distante do destino,
Esticou o pescoço e viu centenas de irmãs suas
Formando uma longa, mesmo muito longa fila,
À porta da alfaiataria.
Apressou o passo e, ao chegar, juntou-se ao coro
Que se ouvia:
-Queremos os bolsos cosidos…queremos os bolsos cosidos
O velho alfaiate saiu à rua e disse:
-Minhas lindas girafinhas, por muito que eu
Cosa os vossos bolsos, os que deles se servem,
Têm tesouras que os cortam num ápice.
E as girafinhas, batendo o pé e esticando o pescoço
Fizeram-se ouvir:
-Fora com as tesouras…fora com as tesouras
Daí para frente, o velho alfaiate passou a poupar nas linhas
Pois a culpa, ponto assente, era das tesouras.
Ele até veio para a rua juntar-se às girafinhas:
-Fora com as tesouras…fora com as tesouras…

Jorge C. Chora

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