O menino chorava e
dizia à mãe que queria ser cão. A mãe arregalava o olho e quase tinha um
colapso ao ouvi-lo:
-Cão, meu querido filho!? Mas porquê?
E o menino dizia-lhe:
-Porque posso fazer o que quero! Cheiro o que me der vontade
e ainda me dão beijos…fazem-me festas…falam-me com voz doce…
-Mas…mas… - engasgava-se a progenitora, sufocada de angústia
– Eu nem acredito que te sintas assim meu adorado pequerrucho…
E o menino de caracóis imaculados, sorriso de anjo e
expressão demoníaca insistia:
-Mamã, quero ser cão!
Apavorada, com o coração em sobressalto, ergueu as mãos ao
céu e pediu:
-Meu Deus, ajuda-me a resolver esta situação.
No meio da aflição, ouviu um estrondo e viu cair do cimo do
armário a trela do cão que tivera, antes do filho nascer.
-Anda cá Agostinho…vou realizar os teus desejos…
Agostinho franziu o nariz, arregalou os olhos e
questionou-a:
-Como assim mamã?
-Vamos dar um passeio à rua! Tenho de te colocar a trela. Espera
só um bocado para ir buscar os sacos de plástico, caso sujes o passeio.
Lembra-te que tens de cheirar o cocó dos outros cães antes de fazeres as tuas
necessidades.
Agostinho insistiu:
-Então vamos…
A mãe colocou-lhe a trela e ordenou-lhe:
-Tens de andar com as mãos no chão ou os outros cães vão
achar que estás a brincar com eles…
Olhou a mãe com atenção. Afinal o que é que se estava a
passar com ela?
-Ó mãe, tu achas mesmo que eu sou um cão?
Jorge C. Chora
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