sábado, 12 de julho de 2014

O menino que queria ser cão

                                                                                                           

 O menino chorava e dizia à mãe que queria ser cão. A mãe arregalava o olho e quase tinha um colapso ao ouvi-lo:

-Cão, meu querido filho!? Mas porquê?

E o menino dizia-lhe:

-Porque posso fazer o que quero! Cheiro o que me der vontade e ainda me dão beijos…fazem-me festas…falam-me com voz doce…

-Mas…mas… - engasgava-se a progenitora, sufocada de angústia – Eu nem acredito que te sintas assim meu adorado pequerrucho…

E o menino de caracóis imaculados, sorriso de anjo e expressão demoníaca insistia:

-Mamã,  quero ser cão!

Apavorada, com o coração em sobressalto, ergueu as mãos ao céu e pediu:

-Meu Deus, ajuda-me a resolver esta situação.

No meio da aflição, ouviu um estrondo e viu cair do cimo do armário a trela do cão que tivera, antes do filho nascer.

-Anda cá Agostinho…vou realizar os teus desejos…

Agostinho franziu o nariz, arregalou os olhos e questionou-a:

-Como assim mamã?

-Vamos dar um passeio à rua! Tenho de te colocar a trela. Espera só um bocado para ir buscar os sacos de plástico, caso sujes o passeio. Lembra-te que tens de cheirar o cocó dos outros cães antes de fazeres as tuas necessidades.

Agostinho insistiu:

-Então vamos…

A mãe colocou-lhe a trela e ordenou-lhe:

-Tens de andar com as mãos no chão ou os outros cães vão achar que estás a brincar com eles…

Olhou a mãe com atenção. Afinal o que é que se estava a passar com ela?

-Ó mãe, tu achas mesmo que eu sou um cão?


Jorge C. Chora

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