Na aldeia, quando os filhos se atrasavam, os pais
interrogavam-se, ansiosos, sobre os verdadeiros motivos da falta de
pontualidade:
-Será que foi para o campo da bola?
Caso fosse um rapaz, acrescentavam:
- Está feito um vadio!
Caso se tratasse de
uma rapariga, então a coisa fiava fininho:
-Aqui D’ El rei que ela nos desgraçou! Foi desta que ela se
deixou levar! Ai o… o… “malaandro”…
Claro que o campo da bola estava localizado num sítio ao
abrigo de olhares indiscretos.
Nesse dia ninguém sabia da Madalena. Tinha fama de santa,
mas isso não evitou os comentários pouco abonatórios:
-Santa? Só se for do pau oco!
-Foi medir o campo da bola…
-Pois é, no melhor pano cai a nódoa…
No meio do alarido, Madalena surgiu ao fim da rua.
-Onde foste Madalena? – perguntaram-lhe, em uníssono, os
presentes.
-Fui à junta de freguesia.Fui pedir para mudarem o campo da
bola aqui para o centro da aldeia. Parece-me que ele fica num sítio isolado, de
difícil acesso e, às vezes, pelo que tenho ouvido, as pessoas perdem-se por lá…
-O quê?? – gritaram novos e velhos.
Um dos anciãos da aldeia, benzeu-se e disse:
-Ó Madalena…queres transformar a aldeia no deserto do Saara?
-Há pedidos que não se fazem… -recriminaram outros.
-Onde é que julgas que se encomendam os bebés? - questionou-a uma das amigas.
- Encomendam-se às cegonhas, não!? Ou pensam que elas as vão
buscar ao campo de futebol? - respondeu-lhe Madalena, toda ruborizada.
Nesse mesmo dia, os seis jovens solteiros da aldeia,
alimentaram a secreta esperança de se tornarem noivos de Madalena.
Também se quer candidatar? Tem de ir para a fila e, pelo que
me chegou aos ouvidos, já vai tarde, porque ela apresentou um pedido para
ingressar no convento.
-Deixa lá minha filha, estes aldeões são mesmo uns
ignorantes! – consolou-a o abade, ao saber da história do campo de futebol.
Jorge C. Chora
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