Maria Bonita era a menina dos olhos de seu tio. Educado nos
melhores colégios do antigo império, homem de brios e honras, era senhor de muitas viagens e seguidor dos
antigos códigos de cavalaria. A sua sobrinha era a filha que nunca tivera.
Embora o homem não fosse velho, fora atingido por uma velhice precoce e sofria
da doença do “alemão”, como diziam na vila.
Maria não era só bela mas também namoradeira. Sempre que
encontrava o tio este apertava-lhe as bochechas e perguntava-lhe:
-Minha linda, como estás ? Tens-te aplicado na escola?
Maria sorria e dava-lhe um beijo repenicado na face e seguia
o seu caminho sob o olhar protector do tio. Maria já tinha trinta anos.
Fora perto da praça que ouvira pela primeira vez alusões malévolas
acerca do comportamento da sua Maria. O homem que as proferira, ainda hoje não
sabe se levou um coice de uma mula ou de um cavalo. Sabe, isso sabe-o bem, que
ficou desdentado. Episódios como este repetiram-se várias vezes antes que os
linguarudos percebessem que não deviam proferir gabarolices.
Um dia chegou à vila um homem mau e mal-educado, vindo
sabe-se lá de onde. Dizem-nos que dos quintos–do-inferno. Postou-se em frente
ao tio de Maria e desatou a dizer-lhe mal da sobrinha. Fiado na sua gigantesca estatura,
ria-se enquanto debitava as insanidades. Acordou no hospital, com dores
violentas nas partes. O médico que o assistiu, fora aluno do tio de Maria, perguntou-lhe :
-Se tivermos de lhe retirar os testículos, pode escolher a
vagina que quer neste catálogo… - e deixou-lhe um grosso volume para uma
escolha mais adequada.
Ainda hoje, quem passar por uma vila com muitos desdentados
e malcriados de vozes fininhas, fica a saber que por lá passou o tio de Maria
Bonita.
Jorge C. Chora
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