Adorava o cheiro da sua mulher. A atracção era de tal modo
intensa que quando ela entrava no carro e se inclinava para o seu lado, ele
inspirava, sôfrego, o aroma que dela emanava e
beijava-lhe o pescoço.
-Ó querido, quem nos vir vai achar esquisitas estas tuas
beijocas…
-E eu ralado…
Um belo dia estranhou o odor que ela exalava. Tinha um
cheiro peculiar.Dir-se-ia, segundo pensou, que se tratava de um fedor
característico a pés. Era isso: cheirava a chulé.
Estremeceu só de pensar como diria à sua adorada, que ela
fedia. Não era possível que ao fim de quarenta anos, a sua flor cheirasse assim…
Dias depois, notou que quando ela abria a carteira se
intensificava o mau cheiro.
-O que tens na carteira que contamina o ar aqui dentro?
-Olha que eu também já notei isso! - E vasculhou a bolsa,
até que abriu a caixinha onde trazia os comprimidos de valeriana. Um bedum a
chulé espalhou-se pela viatura.
Estava identificada a fonte e explicada a situação. Riram-se
a bom rir do problema.
Hoje em dia, quando se querem livrar de situações incómodas,
ela abre três caixinhas de comprimidos, começa a torcer o nariz e diz:
-Não acham que está aqui um cheiro desagradável? Aproveito
para me despedir…
E com o cheiro a espalhar-se, a debandada é geral.
Quando o Manel e
Raquel se encontram livres, ele pede-lhe suavemente:
-Deixa-me beijar-te o teu pescocinho…
Jorge C. Chora
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