segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A caixinha das fragrâncias

Adorava o cheiro da sua mulher. A atracção era de tal modo intensa que quando ela entrava no carro e se inclinava para o seu lado, ele inspirava, sôfrego, o aroma que dela emanava e  beijava-lhe o pescoço.

-Ó querido, quem nos vir vai achar esquisitas estas tuas beijocas…

-E eu ralado…

Um belo dia estranhou o odor que ela exalava. Tinha um cheiro peculiar.Dir-se-ia, segundo pensou, que se tratava de um fedor característico a pés. Era isso: cheirava a chulé.
Estremeceu só de pensar como diria à sua adorada, que ela fedia. Não era possível que ao fim de quarenta anos, a sua flor cheirasse assim…

Dias depois, notou que quando ela abria a carteira se intensificava o mau cheiro.

-O que tens na carteira que contamina o ar aqui dentro?

-Olha que eu também já notei isso! - E vasculhou a bolsa, até que abriu a caixinha onde trazia os comprimidos de valeriana. Um bedum a chulé espalhou-se pela viatura.

Estava identificada a fonte e explicada a situação. Riram-se a bom rir do problema.
Hoje em dia, quando se querem livrar de situações incómodas, ela abre três caixinhas de comprimidos, começa a torcer o nariz e diz:

-Não acham que está aqui um cheiro desagradável? Aproveito para me despedir…

E com o cheiro a espalhar-se, a debandada é geral.

Quando o  Manel e Raquel se encontram livres, ele pede-lhe suavemente:

-Deixa-me beijar-te o teu pescocinho…

Jorge C. Chora




Sem comentários:

Enviar um comentário