Se o mundo acabasse aos gritos, a senhora sobreviveria. Saiu
da viatura a falar tão alto e com uma voz tão estridente que não houve, num
raio de muitas centenas de metros, quem não ouvisse o que dizia ao telemóvel:
-A casa fica em frente? Ah! é à direita de quem entra na
praceta. E qual é o número… espera, tenho aqui um degrau…é a descer e a letra é
a F ? Só um bocadinho…já encontrei. Existe uma espécie de aparelho. É para
marcar o código? Vai dizendo …o seis…o dois…o cinco e o vinte e cinco…Já está, abriu.
A velha D. Antónia, foi a única residente que não ouviu ou
melhor, não percebeu bem o que se estava a passar:
- A quem é que ela está a dizer o número de telefone?
Após se ter instalado na casa de férias que alugara, a
senhora teve de sair. Voltou duas horas depois. Encontrou a porta aberta e a
casa sem nada. Saiu espavorida, agarrou-se ao telemóvel e desabafou:
-Amiga, não fazes ideia do que aconteceu! A tua casa foi
assaltada. Não sei como aconteceu! Espera, tenho aqui um papel escrito, colado
à porta…deixa-me lê-lo…”Para a próxima fale mais baixo. Agradeço as facilidades.
Cumprimentos.”
Calou-se durante uns momentos e numa lamúria que quase ensurdeceu
o bairro:
-E logo hoje que falei tão baixinho…
V.Exª é como ela e ficou agora a saber como é que todos
sabem os seus segredos?
Jorge C. Chora
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