terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Violinista

                                                                                                                                 
Ainda a nona badalada não soara e já o substituto do violinista estava no seu posto. Pedira o violino ao amigo que adoecera e viera fazer uma perninha e uns trocos.

Em frente à igreja, mal viu um grupo de pessoas a aproximar-se, retirou o instrumento do estojo e preparou-se para tocar. O grupo, curioso, parou.

Atacou o violino de um tal modo, que partiu de imediato uma corda. Brandiu o arco como se de uma cimitarra se tratasse e quando o friccionou, pura e simplesmente rebentou a segunda. Olhou surpreso para o instrumento, levantou-o, mirou-o e disse:

-Não há duas sem três….vê lá!

E o ditado cumpriu-se: partiu a terceira. O grupo, boquiaberto, seguiu o seu caminho ou, pelo menos tentou.

O substituto pôs-se a gritar, de modo esganiçado, agudo, como se fosse um violino renascido mas desafinado e vingativo:

-E então o dinheirinho?

-Dinheirinho!? Mas deu-te a louca ó desastrado… - respondeu-lhe um dos do grupo.

-É assim que tratam um virtuoso da música? – replicou, furioso.

-Virtuoso?

-Bem…mesmo que não o seja, preciso de dinheiro para repor as cordas, para o mandar afinar…

-E que temos nós a ver com isso? – barafustou o ouvinte, já farto do desplante do farsante.

-Tudo…ou não querem um serviço público de qualidade?

-Também quer que lhe paguem aulas de música?

-Nem mais…isso é que era uma grande” cena”…

Farto de o ouvir, deu-lhe um euro e comentou:

-Tem uma lata surpreendente…

No dia seguinte, o substituto do violinista, à nona badalada, estava no sítio do dia anterior. Ao ver umas pessoas a aproximarem-se, mostrou o violino com as cordas partidas e intimou:

-Umas moedinhas para comprar cordas para o violino.

Algum tempo depois, passou o mesmo homem com quem dialogara no dia anterior. Deu-lhe outra moeda mas fez-lhe uma exigência:

-Na condição de não comprar cordas para o desgraçado do violino.

-Um cavalheiro não pode comprometer a sua palavra à toa… - E guardou a moeda na algibeira, mesmo junto aos papéis de inscrição do partido em que tenciona  inscrever-se.

Faz-lhe lembrar alguém?  Vários? Não diga quem…

Jorge C. Chora




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