Roberta disse à mãe que ao lanche só lhe apetecia uma
banana
.
-Só? Tens a certeza que não queres a sandes?
-Tenho, mãe. Hoje almoçámos tarde.
No intervalo das aulas, Roberta sentou-se na mesa de pedra
que existia no pátio da escola, desembrulhou a fruta que levava e deu-lhe uma
dentada. Ao seu lado, uma menina, um pouco maior do que ela, fitava-a. Reparou
melhor na sua observadora e notou que ela também olhava para a banana. Sabia
que a menina se chamava Amélia.
-Queres um bocado Amélia?
-Claro! Estava a ver que não oferecias!
Roberta dividiu a banana e deu-lhe a metade que ainda não
trincara.
Amélia comeu-a num ápice e ficou a olhar para a metade que
Roberta ainda não comera e perguntou-lhe:
-Não trouxeste outra?
-Não, por acaso não…mas não tenho fome nenhuma. Queres a minha parte?
Amélia nem sequer se deu ao trabalho de responder. Deitou a
mão à banana e devorou-a.
Roberta nada lhe disse. O vestido um tanto ou quanto
desmazelado de Amélia faziam-na, inconscientemente, não levar a mal aquela
brusquidão. Gostou menos do que Amélia lhe disse:
-Amanhã traz uma banana grande e uma pequena. A grande é
para mim e a pequena para ti. Claro que isso é se eu não tiver fome …se tiver,
como as duas.
Roberta sorriu mas nada comentou. À saída, arregalou os
olhos ao ver quem esperava Amélia: uma senhora muito bem vestida, com um ar
triste, com a porta de um Mercedes aberta, pela qual Amélia entrou alegremente,
chamando mamã à senhora.
O velho carro do pai de Roberta, estava estacionado logo a
seguir ao luxuoso automóvel de Amélia. Roberta, ao passar pela mãe de Amélia
perguntou-lhe:
-A senhora quer que eu traga bananas grandes, médias ou
pequenas para dar à Amélia ao lanche ou ela vai passar a trazê-las?
No dia seguinte, ao dirigir-se à mesa de pedra, Roberta
encontrou Amélia sentada, com um guardanapo estendido com duas sandes e duas
bananas.
-Quero pedir-te desculpa Roberta e convidar-te para comeres
comigo. A minha mãe lembrou-se de mim… é que hoje chega o meu pai que trabalha
no estrangeiro.
-Obrigado Amélia. Nunca tenho fome e só como porque prometi
à minha mãe lanchar sempre. Podes convidar uma das nossas colegas.
-O quê? Se não queres como eu tudo!
Dito e feito. Nem uma migalha sobrou.
`A saída, Roberta viu Amélia dar um grito de alegria: tinha
à sua espera o pai, recém-chegado, que a levantou ao colo do lado esquerdo,
porque o lado direito já estava ocupado com a mãe.
Jorge C. Chora
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