sexta-feira, 18 de março de 2016

A HISTÓRIA DA MENINA PAPA-LANCHES

    
Roberta disse à mãe que ao lanche só lhe apetecia uma banana
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-Só? Tens a certeza que não queres a sandes?

-Tenho, mãe. Hoje almoçámos tarde.

No intervalo das aulas, Roberta sentou-se na mesa de pedra que existia no pátio da escola, desembrulhou a fruta que levava e deu-lhe uma dentada. Ao seu lado, uma menina, um pouco maior do que ela, fitava-a. Reparou melhor na sua observadora e notou que ela também olhava para a banana. Sabia que a menina se chamava Amélia.

-Queres um bocado Amélia?

-Claro! Estava a ver que não oferecias!

Roberta dividiu a banana e deu-lhe a metade que ainda não trincara.
Amélia comeu-a num ápice e ficou a olhar para a metade que Roberta ainda não comera e perguntou-lhe:

-Não trouxeste outra?

-Não, por acaso não…mas  não tenho fome nenhuma. Queres a minha parte?

Amélia nem sequer se deu ao trabalho de responder. Deitou a mão à banana e devorou-a.
Roberta nada lhe disse. O vestido um tanto ou quanto desmazelado de Amélia faziam-na, inconscientemente, não levar a mal aquela brusquidão. Gostou menos do que Amélia lhe disse:

-Amanhã traz uma banana grande e uma pequena. A grande é para mim e a pequena para ti. Claro que isso é se eu não tiver fome …se tiver, como as duas.

Roberta sorriu mas nada comentou. À saída, arregalou os olhos ao ver quem esperava Amélia: uma senhora muito bem vestida, com um ar triste, com a porta de um Mercedes aberta, pela qual Amélia entrou alegremente, chamando mamã à senhora.

O velho carro do pai de Roberta, estava estacionado logo a seguir ao luxuoso automóvel de Amélia. Roberta, ao passar pela mãe de Amélia perguntou-lhe:

-A senhora quer que eu traga bananas grandes, médias ou pequenas para dar à Amélia ao lanche ou ela vai passar a trazê-las?

No dia seguinte, ao dirigir-se à mesa de pedra, Roberta encontrou Amélia sentada, com um guardanapo estendido com duas sandes e duas bananas.

-Quero pedir-te desculpa Roberta e convidar-te para comeres comigo. A minha mãe lembrou-se de mim… é que hoje chega o meu pai que trabalha no estrangeiro.

-Obrigado Amélia. Nunca tenho fome e só como porque prometi à minha mãe lanchar sempre. Podes convidar uma das nossas colegas.

-O quê? Se não queres como eu tudo!

Dito e feito. Nem uma migalha sobrou.

`A saída, Roberta viu Amélia dar um grito de alegria: tinha à sua espera o pai, recém-chegado, que a levantou ao colo do lado esquerdo, porque o lado direito já estava ocupado com a mãe.

Jorge C. Chora





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